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Ano será de ‘buyers market’ nas fusões e aquisições, com o risco geopolítico a gerar incerteza

Perspetivas : Assessores jurídicos e financeiros mostram-se moderadamente otimistas, mas consideram que fatores como o risco geopolítico e a evolução das taxas de juro terão papel chave.

O ano de 2024 será de algum crescimento no mercado de fusões e aquisições (M&A) nacional, num contexto em que os compradores menos endividados terão a vantagem negocial, de acordo com os advogados e assessores financeiros ouvidos pelo JE. Mas factores como a trajetória da inflação e os riscos geopolíticos deverão condicionar as transações, pelo que nem todos se mostram otimistas em relação à atividade em 2024.


“A tendência continuará a ser de um buyers market, em que as grandes operações serão ditadas pelos players que combinam muita liquidez com pouco endividamento”, disse ao Jornal Económico o advogado Diogo Perestrelo, sócio da PLMJ responsável pela área de M&A. “Em Portugal, antecipo que possam a vir a ter lugar entre três a cinco grandes transações de M&A em setores como as telecomunicações, infraestruturas, banca e energias renováveis”, adiantou o sócio da PLMJ.


“As coisas começaram a mudar no último trimestre e neste início de ano já é notória a vontade de regressar ao investimento. Mantendo-se a perspetiva para a evolução dos juros, há condições para um ano de franca recuperação, uma vez que os grandes fundos de investimento internacionais de capital de risco e de infraestruturas estão com muita liquidez acumulada para aquisições”, disse ainda Diogo Perestrelo.


Por sua vez, Jorge Tomé, managing partner da boutique financeira Optimal Investments, mostra-se otimista em relação ao desempenho do mercado transacional português este ano, embora admitindo que, no limite, tudo dependerá da evolução da inflação, das taxas de juro e do risco geopolítico. Já o contexto eleitoral em Portugal não terá grande impacto neste mercado específico, acredita Jorge Tomé.


“Portugal, é um mercado muito influenciado por operações “ cross–border e no middle market“. Como tal, o factor político estritamente nacional não tem, na nossa opinião, qualquer influência”, defendeu o gestor, acrescentando que “o que tem influência são os factores associados aos riscos geopolíticos, a evolução da taxa de inflação e da curva da taxa de juro forward”.


“Não obstante o efeito negativo do aumento da volatilidade  geopolítica no conjunto dos prémios de risco sectoriais tal efeito pode vir a ser atenuado pela estabilidade ou mesmo redução gradual da taxa de inflação”, defendeu Jorge Tomé. “Se estas duas variáveis tiverem movimentos no sentido contrário, o aumento do risco geopolítico pode vir a ser compensado pela redução gradual da taxa de inflação. Agora, tudo depende da magnitude destes dois movimentos”, explicou.


Já o advogado Diogo Leónidas Rocha, que recentemente deixou a Garrigues para ingressar na J+Legal, considera que o risco geopolítico é de facto um dos grandes elementos que condicionam as operações de M&A. E considera que a situação política em Portugal também deverá pesar. “Cada vez mais as decisões estratégicas de investimento são condicionadas por fatores políticos internos e geopolíticos, pelo que o mercado de M&A em Portugal não será certamente alheio aos resultados das eleições de 10 de março e ao risco de instabilidade política que daí possa resultar. Acresce a disrupção logística e tensão inflacionista decorrente da continuação da guerra da Ucrânia, bem como da instabilidade resultante do conflito israelo-palestino e a potencialidade de uma escalada a todo o médio-oriente”, disse o advogado. “Não se perspetiva pois um grande impulso no mercado de M&A em geral em Portugal, pese embora as anunciadas intenções de venda de empresas como a Altice, o Novo Banco ou possivelmente a TAP. No que respeita aos sectores alvo, estes deverão continuar a centrar-se no imobiliário, energia, tecnologia, indústria e saúde”, conclui.