As duas principais economias de ambos os lados do Atlântico começaram o ano com prestações diferentes: enquanto a zona euro superou as expectativas e cresceu o dobro da previsão (ainda que uns tímidos 0,4%) no primeiro trimestre, os EUA registaram um recuo à boleia das importações e das encomendas antecipadas ao exterior face à iminência de tarifas.
Os dados divulgados pelo Eurostat esta quarta-feira mostram um avanço de 0,4% em cadeia no PIB da zona euro, o que superou as expectativas dos analistas, cifradas em 0,2%. O último trimestre de 2024 havia fechado com um crescimento também de 0,2%, enquanto em termos homólogos o PIB avançou 1,2% depois de 1% no quarto trimestre.
A economia da moeda única dá assim alguns sinais de resistência na antecâmara dos efeitos das tarifas impostas pelos EUA, tanto as recíprocas anunciadas a 2 de abril e, entretanto, já revertidas, como as de 25% sobre automóveis, aço e alumínio – estas segundas com impacto já significativo sobre a atividade europeia.
A expectativa é que a economia da moeda única abrande a partir de agora, à medida que o impacto das tarifas se começa a sentir tanto no Velho Continente, como no resto do mundo. Trump anunciou recentemente a suspensão das tarifas recíprocas, que incluiriam 20% sobre todas as importações oriundas da Europa, mas os efeitos da incerteza criada pelos avanços e recuos de Washington já levaram a uma forte correção nos mercados e devem condicionar o investimento nos próximos trimestres.
A projeção do banco ING passa, portanto, por “dois trimestres de quase-estagnação antes de o crescimento retomar no quarto trimestre”, dada a alteração substancial de paradigma desde os primeiros três meses do ano. Ainda assim, este resultado acima do esperado irá dar algum alento ao resto de 2025, embora a previsão para o ano na totalidade não passe dos 0,7%.
Apesar de continuar a ser um crescimento próximo do residual, o avanço de 0,4% na zona euro contrasta com o recuo de 0,3% em termos anualizados nos EUA, à medida que os agentes vão navegando a incerteza criada por Trump e os seus ziguezagues tarifários.
Os dados mostram já um abrandamento evidente em relação ao crescimento de 2,4% registado no final do ano passado, com os importadores norte-americanos a acorrerem às encomendas vindas do exterior numa tentativa de antecipar a política comercial. Os impactos negativos estão, contudo, à vista. As importações dispararam 41,3%, valor que sobe ainda mais, para 50,9%, se considerarmos apenas bens, enquanto os gastos públicos recuaram. De salientar, no entanto, que uma parte considerável destas importações foi de ouro, o que poderá retirar alguma fiabilidade aos números divulgados esta quarta-feira.
Ao mesmo tempo, o consumo privado manteve-se em terreno positivo, ainda que abrandando, crescendo apenas 1,8%, o valor mais baixo desde o segundo trimestre de 2023 e bastante menos do que o avanço de 4% registado no trimestre anterior.
Os dados do crescimento foram divulgados no dia após ser sabido que o défice comercial dos EUA tocou novos máximos históricos em março, chegando a 162 biliões de dólares (142,5 biliões de euros) à boleia de também novos máximos absolutos nas importações. Recorde-se que parte dos objetivos explícitos de Trump com a sua política protecionista são precisamente relacionados com o défice comercial crónico dos EUA com o resto do mundo nas trocas de bens.
Zona euro cresce acima do esperado enquanto EUA sofrem com tarifas
PIB : Primeiro trimestre traz já sinais negativos para os EUA, onde o PIB recuou à boleia da antecipação de importações, enquanto a economia da moeda única surpreendeu pela positiva, crescendo o dobro do esperado.
