Os avisos têm-se multiplicado e surgem de várias direções: a dívida global está numa trajetória insustentável, arriscando fixar novos máximos em breve – superando valores não registados desde a II Guerra Mundial – e criando uma pressão redobrada sobre os governos nacionais, sobretudo na zona euro. O disparo registado na última década superou o crescimento do PIB global e em 2027 vence uma parte muito considerável do stock já existente, agravando os custos no atual ambiente de taxas elevadas, sendo que a dívida pública deve chegar a 100% do PIB em 2030.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) foi a instituição internacional mais recente a lançar o alerta: este ano trará um aumento da dívida pública global de 2,8 pontos percentuais (p.p.) até 95,1% do PIB e 2030 fechará já com 99,6%, aproximando-se dos 100% do PIB no final desta década. A atual tendência arrisca levar os níveis de dívida pública acima dos máximos registados em 2020, com a pandemia, quando o indicador chegou a 98,9%.
Mas o cenário adverso é ainda mais preocupante. O exercício de projeções do FMI prevê que, caso se materializem os riscos mais severos, o rácio de dívida pública global em função do PIB pode inflacionar até 117%, superando os valores registados aquando da II Guerra Mundial, sublinhando a dimensão do problema.
Esta é mais uma crítica relativamente explícita do Fundo à inclinação dos países a privilegiarem as tensões geopolíticas ao comércio livre, bem como à recente vontade de muitos governos, sobretudo na Europa, de aumentarem gastos com defesa – um sector tipicamente pouco produtivo e que levará a mais despesa em economias já com pouca margem orçamental.
Para o economista e professor universitário António Nogueira Leite, importa destacar as diferenças entre países, dada a heterogeneidade a nível nacional. Ainda assim, o mais importante será “que continuemos a crescer globalmente”, visto que, “quando estes níveis [de dívida] foram subscritos, previa-se um determinado crescimento – pelo que era muito importante que não nos afastássemos desse crescimento”.
Guerras tarifárias, decididamente, “geram mais problemas de serviço de dívida”, acrescenta, complicando ainda mais a situação de países com pouca margem orçamental.
Repetem-se os avisos: dívida global está a entrar em descontrolo
Endividamento : Um aumento de 50% na última década (acima do crescimento do PIB), montantes avultados para refinanciar a juros mais altos e a urgência de investir em agendas transformadoras colocam a dívida global sobre uma pressão renovada, gerando avisos desde o FMIà OCDE.
