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“Teremos bastante atividade de M&A, sobretudo no segundo semestre”

Entrevista : Numa entrevista conjunta ao Jornal Económico, Mariana Norton dos Reis e Rafael Lucas Pires, sócios co-coordenadores da área de Societário e M&A da Cuatrecasas, partilham as suas perspetivas para este ano, depois de em 2023 o escritório ter liderado os rankings nacionais de assessoria jurídica a fusões e aquisições por volume das operações.

Quais são as vossas expetativas para o mercado de M&A em Portugal em 2024?
Mariana Norton dos Reis (MNR) - O ano de 2023 foi um ano excecional para a nossa área de M&A em Portugal, em que liderámos todos os diretórios em termos de volume de operações, pelo que será exigente superar os nossos resultados. Ainda assim, temos um bom pipeline para 2024 e esperamos um aumento dos investimentos de Venture Capital e Private Equity, e forte atividade de M&A em determinados sectores, em particular no designado middle-market. Entendemos que em 2024 veremos algumas operações interessantes da área do mercado de capitais, mas não esperamos ver os chamados “macro deals”. Muitas das operações de desinvestimento foram adiadas para o segundo semestre ou até para 2025, mas ainda assim consideramos que teremos bastante atividade de M&A sobretudo no segundo semestre.


Que áreas deverão ser as mais ativas?

Rafael Lucas Pires (RLP) - As áreas mais apelativas para o investimento parecem ser as áreas de TMT, transição / eficiência energética e saúde. Registamos também muito interesse dos investidores internacionais nas chamadas infraestruturas não core ou de nova geração e em investimentos com impacto social que abrem oportunidades de crescimento nos mais diversos sectores. Continuaremos a ver bastantes operações no retalho, serviços financeiros e IT.
 
A conjuntura política, com alguma incerteza associada, pode colocar algumas operações em stand by?
MNR - A indeterminação da solução governativa tem sempre algum impacto ao nível da incerteza e dos timings, sobretudo nos investimentos que dependem de iniciativa ou de envolvimento público ou de um consenso político alargado (privatizações, compras ou alienações do Estado, grandes obras de infraestruturas, etc…). Também neste campo parece haver, contudo, algumas boas notícias, com as que resultam do lançamento do concurso para a primeira linha de alta velocidade Porto-Lisboa e da inevitabilidade da realização de alguns investimentos abrangidos pelo PRR. Do lado mais incerto parecem estar, por exemplo, as pré-anunciadas privatizações da TAP e da SATA mais dependentes das opções governativas nacionais e regionais.
 
Temos dois grandes IPO no horizonte em Portugal, ambos na área financeira (Novobanco e Fidelidade). Acreditam que estão reunidas as condições para que este ano estas e outras operações sejam possíveis no mercado de capitais em Portugal?
RLP - Tudo indica que sim. Realmente a conjuntura económica, em Portugal e lá fora, parece possibilitar algum reavivar do mercado de capitais no nosso País que, apesar de reunir todas as condições técnicas e regulatórias necessárias, tem tido uma atividade menor do que seria desejável, não tendo realmente tido – nos últimos anos - o papel de forma alternativa de financiamento do crescimento das nossas empresas e da nossa economia que seria esperado. Como trend interessante, temos também assistido à preparação de certas operações em dual track, i.e. possibilitando uma solução de saída alternativa, via mercado de capitais (IPO) ou via alienação em processo de private M&A.
 
Tendo em conta o contexto acima descrito, quais serão as linhas gerais da vossa estratégia nesta área em 2024?
MNR -Continuaremos a apostar fortemente na especialização das nossas equipas e no conhecimento dos sectores de atividade das empresas a quem assessoramos em operações de investimento, desinvestimento, parcerias estratégicas, restruturações ou outros momentos essenciais para o seu crescimento. Temos neste momento uma equipa de M&A com ampla experiencia e capacidade de resposta nos sectores do capital de risco (private equity e venture capital), energia e infraestruturas, retalho e FMCG (bens de consumo rápido), saúde e life sciences, TMT, logística e transportes, serviços financeiros, aviação e agribusiness, entre outros, que nos permite dar uma assessoria altamente qualificada e com grande visão comercial e conhecimento do mercado.
 
O advento da multidisciplinaridade traz desafios acrescidos para a atividade da Cuatrecasas na área do M&A? Vai mudar alguma coisa, ou é algo com que a firma vai conviver naturalmente? E no resto do mercado?
RLP - O advento da multidisciplinaridade nas sociedades de advogados vai certamente ter impacto no sector jurídico em geral e, em particular, na área do M&A. A Cuatrecasas já viveu essa experiência em Espanha com a concorrência de firmas de auditoria e outro tipo de entidades multidisciplinares na prestação de serviços de assessoria diversa incluindo legal em determinados sectores ou segmentos de mercado. Vamos conviver naturalmente com essa concorrência mantendo a nossa essência como sociedade de advogados global e altamente especializada, reforçando a nossa aposta na especialização, com equipas de advogados preparadas para operações domésticas e internacionais de grande complexidade, acompanhados de advogados das várias áreas do direito, com uma capacidade de resposta imediata, especializada e inovadora para responder com mais qualidade às necessidades dos nossos clientes.