Com o inverno prestes a dar lugar à primavera e as condições no terreno a deixarem de ser um lodaçal de neve, os exércitos russos parecem estar a levar a efeito uma campanha militar reforçada, com a intenção de afastar as tropas ucranianas do Donbass. É, na ótica de Moscovo, o momento certo: “Os parceiros ocidentais estão a ter dificuldade em repor armas e munições, o que transforma este momento na altura certa para aumentar a pressão” militar sobre a Ucrânia, refere ao JornalEconómico (JE) Francisco Seixas da Costa, embaixador e analista de política internacional. A acreditar nos relatos que chegam das duas bandas – o que serve para os confirmar – a Rússia está a aumentar o caudal dos ataques em todo o Leste e Sul da Ucrânia, ao mesmo tempo que a resposta dos ucranianos parece estar a passar por grandes dificuldades.
Ninguém sabe ao certo quem será o próximo presidente dos Estados Unidos da América (EUA) – mas os analistas, e Seixas da Costa é um deles, confirmam que, se for Donald Trump a regressar à Casa Branca, isso não são boas notícias para a Ucrânia. Em termos estratégicos, a soma das dificuldades de suporte da Ucrânia com a indefinição nos EUA (que só deixará de ter efeitos em janeiro próximo) leva a que este seja o momento certo para um esforço final.
Para tentar contrariar aquilo que são adversidades em toda a linha, o Parlamento da Ucrânia aprovou um projeto de lei de mobilização com o objetivo de recrutar centenas de milhares de reforços. Os números necessários, segundo informações emanadas de Kiev, são inferiores aos 500 mil inicialmente previstos. Mas o tema não deixa de ser controverso: muitos homens de 25 e 26 anos passam a ser elegíveis para alistamento pela primeira vez, e a cláusula de desmobilização que permitiria que os soldados deixassem as Forças Armadas após 36 meses de serviço foi suspensa. Os homens de 18 anos podem passar a ser voluntários e apenas a idade máxima para o combate (60 anos) não foi para já alterada. O facto de o projeto inicial ter sofrido cerca de 4.000 emendas mostra o quanto o debate foi polémico – e a votação só se processou esta quinta-feira, depois de mais de um mês de debate.