Enquanto o PS se debate com o programa e a estratégia política para as eleições legislativas, a direção do PSD lida com um problema mais premente: a debandada. Muitos dos cabeças de lista sociais-democratas da coligação Portugal à Frente eleitos em 2015 fecham a porta a um novo mandato, uns por questões pessoais e outros por discordâncias políticas com a liderança de Rui Rio. O ‘êxodo laranja’ vai obrigar a mexidas de fundo na constituição da futura bancada parlamentar do PSD e já há potenciais substitutos.
Teresa Morais foi a mais recente baixa. A ex-secretária de Estado da Igualdade e atual eleita pelo círculo de Leiria fez saber esta semana que se vai retirar da linha da frente do partido em desacordo com a estratégia política de Rio. “Não quero ter rigorosamente nada em comum com quem está a definhar o meu partido, a excluir em vez de acrescentar, a tornar o PSD num partido ‘maneirinho e homogéneo’”, disse.
Muito antes dela também José Aguiar-Branco, do Porto, tinha renuncido ao cargo de deputado na próxima legislatura. O cabeça de lista pelo Porto em 2015 justificou a decisão com questões pessoais, mas no anúncio da despedida não evitou rasgados elogios a Luís Montenegro, que disputou a liderança do PSD com Rui Rio em janeiro e é tido como um dos membros da oposição interna com mais probabilidades de ser bem-sucedido.
Já o antigo vice-presidente do grupo parlamentar Carlos Abreu Amorim afirmou, em fevereiro de 2018, estar indisponível para assumir com Rio qualquer cargo no PSD, “a não ser que faça uma viragem estratégica”. Na altura, o deputado que liderou a lista do PSD pelo círculo de Viana do Castelo demitiu-se da direção da bancada parlamentar, mas manteve-se na Assembleia da República. O esperado é que não se recandidate.
Quem também já anunciou que não está disponível para um novo mandato foi António Leitão Amaro, a par com Manuel Frexes, embora por razões diferentes. Leitão Amaro, eleito por Viseu, deixa o Parlamento para se dedicar à conclusão do doutoramento na Universidade Católica, a par da docência universitária, que manteve em tempo parcial nos últimos anos. Já Manuel Frexes, de Castelo Branco, é arguido num inquérito do Ministério Público que investiga crimes de prevaricação e participação económica em negócio e vai retirar-se para evitar mais “julgamentos em praça pública”.
Braga vai perde o cabeça de lista de 2015, afastado desde há muito do Palácio de SãoBento. Jorge Moreira da Silva está a posicionar-se para fazer oposição a Rio, dizendo que “a responsabilidade pelo desastre eleitoral [das europeias] e por esta humilhação, que os militantes do PSD não mereciam, reside única e exclusivamente na estratégia e gestão política da liderança do PSD”.
O PSD perderá, assim, os cabeças de lista eleitos em 2015 por Leiria, Porto, Viana do Castelo, Viseu, Castelo Branco e Braga. A estes juntam-se o de Lisboa (liderado nas últimas eleições por Pedro Passos Coelho) e Aveiro (de Luís Montenegro, que passou a liderar o oposição interna após a saída de Passos Coelho e de Pedro Santana Lopes).
Fonte do PSD indica ainda que Teresa Leal Coelho, do círculo de Santarém, e Maria Luís Albuquerque, de Setúbal, – da linha de Passos Coelho – não devem encabeçar as listas do PSD para dar a vez a nomes de maior proximidade e confiança de Rio. Quanto a Portalegre, o destino é incerto. Cristóvão Crespo, que foi em tempos grande apoiante do atual presidente social-democrata, já deu sinais de estar desiludido com a direção do partido. Incerta é também a continuidade de Sara Madruga da Costa como cabeça de lista pela Madeira, após Rio ter escolhido a número dois da lista, Rubina Berardo, para vice-presidência do grupo parlamentar do PSD. Berta Cabral, dos Açores e apoiante de Santana Lopes, é outra das incógnitas para a próxima legislatura.