Os opositores internos à liderança de Rui Rio acompanham em silêncio as movimentações políticas no PSD, sem grandes expectativas de serem integrados nas listas para as legislativas de outubro. Enquanto isso, começam a posicionar-se e a preparar uma nova estretégia de ataque para o pós-eleições e para as eleições internas de 2020.
Luís Montenegro, que desafiou Rio para eleições diretas em janeiro, é um dos opositores que está na linha da frente para uma potencial investida depois das eleições legislativas. Montenegro tem-se mantido em silêncio, depois do Conselho Nacional ter dado um voto de confiança a Rio, mas não se rendeu à estratégia política adotada por Rio. Marcou presença na campanha do PSD para as europeias, para dar uma ideia de união no partido, mas tem reunido apoiantes entre a oposição interna.
A mais recente aparição pública de Montenegro aconteceu ainda esta semana, na apresentação do Manifesto X, um programa cívico alternativo à atual direção com uma lista de 100 propostas para os próximos dez anos, lançado pelo ex-secretário de Estado e ex-líder da JSD Pedro Duarte (que também não morre de amores por Rio). Montenegro referiu-se a Duarte como “um amigo”, mas o que é certo é que o ex-líder da jota social-democrata já anunciou que está “preparado para liderar uma nova estratégia no PSD”.
Pedro Duarte garante que o manifesto mais não é do que “um espaço complementar ao trabalho dos partidos” e que as propostas para o futuro pretendem servir de “base de reflexão para um programa para o país”. É por isso, sublinha, “apartidário” e tem em vista as disputas internas do PSD. Entre as medidas que Duarte propõe está “a construção de uma sociedade desenhada para o bem-estar e felicidade das pessoas”, em que seja adotado um novo índice para medir o desenvolvimento nacional: “Felicidade Interna Bruta”.
O ex-ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, tem também marcado posição para outubro. Numa entrevista à RTP3, Moreira da Silva não poupou críticas a Rio e disse que “no futuro se verá” se pondera uma candidatura à liderança de Rio. “Quando se é líder do PSD está-se a pilotar um Fórmula 1, não há espaço para falhar uma mudança, uma transição de velocidade ou uma curva”, afirmou.
Já o ex-presidente do grupo parlamentar do PSD, Hugo Soares, remete-se ao silêncio e diz que, depois de ter lançado fortes críticas ao atual líder, só volta a falar “em outubro”.
Miguel Morgado tem também trabalhado na oposição interna a Rio. O antigo assessor político de Pedro Passos Coelho lançou, em março, o Movimento 5 de Julho (Movimento 5.7) para refundar a direita portuguesa e preparar terreno para o “florescimento de novas ideias e conceitos”. A ideia do movimento é promover o diálogo entre os partidos não-socialistas para uma união construtiva à direita e para criar “uma verdadeira alternativa ao atual Governo de António Costa”.
Miguel Morgado lembra ainda ao Jornal Económico que em 2020 o PSD volta a ter eleições internas, que podem afastar Rio do cargo. O ex-autarca do Porto, eleito com 54,37% dos votos, cumpre os dois anos de mandato previstos nos Estatutos em janeiro do próximo ano, pelo que o PSD deve anunciar novas eleições internas após as legislativas.