A economia da moeda única voltou ao crescimento no arranque deste ano, suportada pelos países periféricos do bloco, incluindo Portugal, mas o avanço do PIB não deve alterar os planos do Banco Central Europeu (BCE) quanto às taxas de juro diretoras. Por outro lado, a inflação nominal manteve-se inalterada, mas a subjacente (exclui preços mais voláteis como produtos alimentares e energéticos) caiu, tal como a dos serviços, dando algum alívio aos responsáveis de política monetária.
Portugal registou dos crescimentos mais elevados da zona euro no primeiro trimestre, avançando 1,4% em termos homólogos e 0,7% em cadeia. Estes números comparam com os 0,3% da moeda única em termos homólogos, que se traduz numa evolução em cadeia de 0,4%. Juntamente com os países bálticos, a economia ibérica tem sido um dos motores do espaço euro, colocando o bloco de novo fora de recessão após o recuo de 0,1% no último trimestre de 2023.
“A periferia fez o trabalho pesado no primeiro trimestre”, argumentam os analistas da Pantheon Macro, destacando como Lituânia, Letónia, Espanha e Portugal lideraram o crescimento (excluindo a Irlanda, cujos números são alvo de frequentes e expressivas revisões). O consumo cresceu em Itália, Espanha e Áustria, “sobretudo pela via dos serviços”, mas “a procura doméstica manteve-se um peso para o PIB, com os inventários a caírem”.
“A boa notícia é que este peso parece ser compensado por um impulso dado pelas exportações líquidas e o investimento também parece ter aguentado bem”, lê-se na nota do think-tank.
Ainda assim, esta evolução não deve alterar significativamente os planos do BCE. Olhando para as previsões macro mais recente da Comissão, a expectativa era de um crescimento de 0,2% este trimestre, pelo que o acréscimo de 0,1 pontos percentuais (p.p.) não difere deste cenário.
Os analistas do banco ING consideram que “o ambiente económico mantém-se benigno o suficiente para um corte em junho”, apontando também à inflação. O indicador manteve-se inalterado em 2,4% em abril, sinalizando uma estabilização, mas o subjacente caiu pela nona leitura seguida, desta vez para 2,7%, enquanto o subíndice referente aos serviços recuou para 3,7% após cinco meses seguidos em 4%.
“Os dados da inflação desta semana são um aviso ao BCE de que terá de ser cauteloso com os cortes e poderá demorar a normalizar. Com uma economia a dar sinais de recuperação e o desemprego em mínimos históricos, pode dar-se a esse luxo”, continua a nota do ING. “Ainda assim, a zona euro não é os EUA e a procura não cria tanto risco como para a Fed”, ressalvam, continuando a apostar numa primeira descida dos juros em junho.
Já esta quinta-feira, a OCDE atualizou as suas previsões macro, apontando a 3,1% de crescimento este ano, tal como em 2023. Portugal deve crescer 1,6%, uma revisão em alta dos anteriores 1,2%, enquanto a zona euro avança apenas 0,7% (uma melhoria em relação aos anteriores 0,6%). Para a inflação, a projeção é de 2,34% na moeda única.