O almoço com o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, e a confirmação dos apoios (mais ou menos) esperados a Paulo Rangel do presidente da distrital da Área Metropolitana de Lisboa, Ângelo Pereira, e do presidente da Juventude Social Democrata,Alexandre Poço, reforçaram nos últimos dias algo que se tornou evidente desde o início da campanha para as diretas que vão decidir neste sábado quem conduzirá o PSD nas legislativas de 30 de janeiro de 2022: boa parte dos notáveis e das estruturas afastaram-se de Rui Rio depois de no passado o terem ajudado a derrotar Pedro Santana Lopes, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz.
Consciente de ter perdido o controlo do aparelho, algo que ficou patente no apoio declarado ao eurodeputado pela preponderante distrital do Porto, liderada por Alberto Machado, e no domínio quase absoluto em Braga - apesar de o presidente da distrital, Paulo Cunha, manter formalmente a neutralidade e de o novo presidente da Câmara de Barcelos, Mário Constantino, constituir a exceção ao ‘rangelismo’ entre os autarcas do distrito -, Rio tem repetido que nas diretas está em causa a escolha de cada um dos 45.986 sociais-democratas com quotas em dia, pois o voto de um militante de base vale tanto quanto o de um responsável por distritais ou concelhias.
Tendo a seu favor a tradição que protege líderes do PSD que se submetem ao voto dos militantes para se manterem em funções - até hoje todos os que o tentaram foram reeleitos tirando Marques Mendes, que depois de vencer as primeiras diretas foi derrotado por Luís Filipe Menezes em 2007 -, Rio optou ainda assim por minimizar as diretas, ao ponto de garantir que não se envolveria na campanha interna para se concentrar em fazer oposição ao PS. Mas em diversas ocasiõespôs em causa as credenciais do rival, repetindo que ninguém pode estar preparado para ser primeiro-ministro em apenas dois ou três meses.
Destacados apoiantes de Rangel admitem que a tese possa surtir efeito em alguns militantes, principalmente nos que ficaram mais predispostos a manter intocada a liderança na sequência dos avanços conseguidos nas autárquicas de 26 de setembro. Mas que também não impediram PauloRangel de lançar a candidatura no Conselho Nacional de 14 de outubro, quando o calendário eleitoral só previa legislativas no final de 2023.
Entre os comentadores políticos só existe consenso quanto à incerteza do resultado que será conhecido nesta noite de sábado - a hipótese de segunda volta a 1 de dezembro caiu por terra com a desistência da anunciada candidatura de Nuno Miguel Henriques - e à ideia de que o maior peso de Rangel junto dos dirigentes de estruturas partidárias não é garantia de sucesso. “Nenhum de nós sabe se isso influencia os votos”, admitiiu Marques Mendes no seu espaço de comentário na SIC, realçando que está por realizar uma sondagem que incida sobre o universo extremamente específico que decidirá o vencedor das primárias, próximo presidente do partido e candidato a disputar o cargo de primeiro-ministro com AntónioCosta: militantes do PSD com quotas em dia.