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Impacto da pandemia no emprego atingiu sobretudo as mulheres

A pandemia veio atrasar o objetivo global de paridade salarial em 35 anos, mas a adoção de esquemas de trabalho flexíveis pode ajudar a uma maior harmonia entre vida pessoal, profissional e familiar.

Um dos temas que a Comissão Europeia e, em particular, Ursula von der Leyen colocam como prioritários na agenda da União Europeia (UE) é a paridade de género, um princípio que se estende ao mercado de trabalho e às remunerações. Mas a pandemia veio atrasar ainda mais esse objetivo, dado o seu impacto desproporcional nas mulheres, conclui um estudo da consultora Willis Towers Watson.

Segundo o estudo, este fenómeno, motivado sobretudo por uma posição laboral ainda mais frágil das mulheres e um desequilíbrio na conciliação entre vida pessoal, profissional e familiar foi bastante visível em Portugal, embora nenhum Estado-membro tenha ainda conseguido atingir a paridade de género.

Antes da pandemia, a estimativa do Fórum Económico Mundial para que o mundo atingisse a paridade de género no emprego era de 100 anos. A crise criada pela Covid-19 veio acrescentar 35 anos a esse objetivo, segundo o mesmo organismo, e esta foi uma tendência que se verificou a nível global, incluindo, está claro, a Europa e Portugal. Já este ano, a Comissão Europeia reconheceu no seu relatório anual sobre igualdade de género que a pandemia comprometeu “conquistas árduas dos últimos anos”. Também os dados do INE haviam sinalizaram já mostrado que 90% das 50 mil pessoas que deixaram de fazer parte da população empregada entre fevereiro e abril do ano passado (ou seja, quando a Covid-19 chegou a Portugal) eram mulheres.

“Esta situação vem agravar uma série de situações socioeconómicas que deixam as mulheres mais fragilizadas”, afirma ao Jornal Económico Ana Amado, diretora da Willis Towers Watson, lembrando as 26 horas por semana, em média, que as mulheres gastam a mais do que os homens em cuidados familiares, que acrescem às 8 horas semanais a mais, em média, despendidas com tarefas domésticas. Estas diferenças, argumenta, traduzem-se num “aumento do volume do trabalho” decorrente do teletrabalho, isolamentos profiláticos e restrições à atividade que se têm verificado nos últimos meses.
Por outro lado, regista-se ainda “um aumento da degradação da situação financeira das mulheres, quer seja devido à perda de emprego, quer seja porque já se encontrava na situação de desvantagem face aos seus pares masculinos”, acrescenta Ana Amado.

No entanto, a transição para modelos de trabalho híbridos e mais flexíveis, uma dimensão acelerada pela pandemia, poderá trazer “inúmeras vantagens de flexibilidade de conciliação entre a vida profissional e familiar” em “empresas que levam a sério as suas políticas de Inclusão e Diversidade”.

“Apesar do trabalho flexível poder funcionar como um acelerador de carreira para muitas mulheres, continua a ser crítico que se identifiquem as causas subjacentes ao fosso salarial, para melhor sermos capazes de resolver esta questão”, argumenta. Neste aspeto, os Estados-membros terão um papel a dizer, não só dada a Estratégia para a Igualdade de Género vinda de Bruxelas, mas também pela sua capacidade de atuar em matérias como a transparência no recrutamento de forma a combater a discriminação salarial ou de “forçar as empresas a priorizarem este tema”, completa Ana Amado. 

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