O endividamento das micro, pequenas e médias empresas (PME) portuguesas está em máximos, com as micro empresas a serem o grupo que mais se endividou até setembro face a igual mês de 2019, o ano pré-pandemia. Uma radiografia ao endividamento das empresas privadas revela ainda que, por outro lado, durante o período pandémico as grandes empresas foram as que mais reduziram o seu endividamento.
Os dados do Banco de Portugal (BdP), analisados pelo Jornal Económico (JE), mostram que o endividamento das PME ascende a 178,3 mil milhões de euros em setembro, correspondendo em termos nominais ao valor mais elevado desde dezembro de 2007, quando se inicia a série estatística do regulador bancário. Qualquer coisa como 77% do PIB ou cerca de 11 vezes mais o envelope financeiro do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para Portugal nos próximos seis anos.
A fotografia expõe um aumento deste endividamento de 6,73% em relação a setembro de 2019 e de 3,6% face ao mês homólogo do ano passado, segundo cálculos do JE, com base nos dados do BdP (ver infografia). Uma tendência que, segundo Jorge Pisco, presidente da Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME), deverá continuar. “Acreditamos que o endividamento das PME continuará a aumentar durante ainda bastante tempo”, diz em declarações ao JE, recordando que com a retoma da atividade, devida ao abrandamento da pandemia, surgiram novas necessidades financeiras.
“A maior parte das PME necessitou de repor stocks, de efetuar a manutenção de equipamentos que tinham estado desativados, de contratar pessoal para preencher postos de trabalho”, explica.
A contribuir para o endividamento das PME estiveram sobretudo as micro empresas, cujo endividamento duplicou durante a pandemia face às pequenas e médias empresas. O endividamento das micro empresas subiu para 78,5 mil milhões de euros, um aumento de 7,9 mil milhões entre setembro de 2019 e setembro deste ano. Já o endividamento das pequenas empresas aumentou 2,9 mil milhões de euros no mesmo período, fixando-se em 47,6 mil milhões de euros, enquanto o endividamento das médias empresas subiu 526 milhões de euros para 52 mil milhões de euros.
Para Jorge Pisco, muitas destas PME “ainda não conseguiram voltar aos níveis de atividade que tinham em 2019” e “têm dificuldade em cumprir com os seus compromissos”. Até, porque, com o agravamento da pandemia, a que vimos assistindo, recorda, “existem receios de que voltemos a um período de restrições e as atividades voltem a regredir”.
“Acrescem a tudo isto, as novas dificuldades financeiras provocadas pelo atual aumento generalizado dos custos intermédios e pela escassez de matérias-primas e de mão-de-obra, para além da manutenção da enorme carga fiscal que recai sobre as PME”, refere.