A viagem desta semana do presidente chinês, Xi Jinping, à Europa foi, no mínimo, estranha. Desde logo, porque o estadista chinês esteve em França depois de o seu presidente, Emmanuel Macron, ter aumentado o clima de tensão com a Rússia – ao avançar que tropas francesas podiam avançar pelo território ucraniano dentro para auxiliar o país invadido. Depois, porque Xi Jinping esteve de seguida na Sérvia e na Hungria, dois países considerados pró-russos. E finalmente porque a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deu ‘uma saltada’ a Paris para participar num encontro entre os dois presidentes.
Os analistas não compreenderam. “É uma coisa extraordinária: se Portugal convidar o Sr. Xi Jinping para Portugal, conseguimos colocar a Sra. Von der Leyen ao lado do primeiro-ministro português? Se calhar não, se calhar a presidente da Comissão só vai às visitas” organizadas por alguns presidentes, “talvez aqueles que tenham mais força, o que é um bocadinho ridículo para a Europa”, disse o embaixador Seixas da Costa em declarações ao JE. Mas esta não foi a única estranheza do que aconteceu esta semana. Depois do encontro a três, “Ursula von der Leyen fez uma conferência de imprensa sozinha em que disse o contrário daquilo que Macron disse”.
De facto, Macron usou palavras de aproximação à China – chamando a atenção para a necessidade de os dois blocos manterem abertas linhas comerciais e de envolvimento estratégico, enquanto a alemã líder da Comissão optou por insistir no combate que a União vai manter à concorrência chinesa, que caraterizou como “práticas comerciais agressivas e proteger as suas indústrias de serem dizimadas” por essas práticas.
Numa só semana, Xi Jinping conseguiu estar em três europas distintas: na que quer cooperar com o Império do Meio, na que quer combater a sua homogeneização comercial e na que ainda presta algum culto à Rússia e não tem dúvidas em aliar-se à China. No final disto, ficou claro, como salientou Seixas da Costa, que a Europa está afundada num evidente desconcerto estratégico e numa total incapacidade de, do ponto de vista da política externa, manter uma posição comum – patrocinada, disse ainda, pela irrelevância dos 27 face ao que se passa na Palestina.