O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira mudar o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic). Depois de promover seis reduções consecutivas de 0,50 pontos percentuais (p.p.), a diretoria do BC anunciou uma queda de 0,25 p.p. na taxa, de 10,75% para 10,5% ao ano.
O presidente do BC, Roberto de Oliveira Campos Neto (na foto), e outros quatro diretores votaram pelo corte menor. Os quatro indicados pelo governo Lula votaram por uma redução de 0,50 p.p.. Entre eles, o diretor Gabriel Galípolo, cotado para ser o próximo presidente da instituição.
A decisão veio em linha com a expectativa de vários economistas, mas a visão do BC não era unânime no mercado.
A maior cautela do Copom também vem a contragosto do governo Lula da Silva (PT), que defende uma queda mais rápida dos juros no país. Após a decisão do comité, o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou nas redes sociais que o governo Lula vem “fazendo o dever de casa” e que o atual patamar de juros é um travão ao desenvolvimento do país.
“A redução de 0,25 p.p. na Selic é um sinal importante de confiança no governo, mas o ritmo da queda precisa de ser maior, sem hesitações. O Brasil precisa de retomar a normalidade monetária, com juros condizentes com as necessidades do país e a responsabilidade do governo”, disse Alckmin.
Apesar da divisão na votação, o Copom diz que, de forma unânime, avalia que o cenário global incerto, o cenário doméstico marcado por uma atividade económica mais forte que a esperada e as expectativas de inflação acima da meta obrigam a maior cautela.
Sobre os próximos passos, o Copom diz que “a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.
Segundo o BC, a política monetária deve manter-se contracionista até que se consolide não apenas o processo de queda da inflação, mas também “a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.
O corte de 0,25 p.p. era a projeção de 22 dos 33 analistas consultados pela Bloomberg. No relatório Focus, a mediana das estimativas também era um corte para 10,50% ao ano. A sondagem da XP Investimentos apontava que 55% dos 92 investidores institucionais consultados acreditavam no corte de 0,25 p.p., enquanto 45% esperavam manutenção do ritmo de 0,50 p.p.
Na última reunião, a 20 de março, o comité sinalizou que poderia haver mais um corte da mesma intensidade. Houve, no entanto, mudança no discurso de vários integrantes do BC nas últimas semanas.
Um fator determinante foi a deterioração no cenário internacional, com o banco central dos EUA, a Reserva Federal, sinalizando que os juros vão demorar mais a cair. No comunicado da decisão, o BC diz que o ambiente externo se tornou mais adverso, em função da incerteza elevada e persistente em relação ao início da queda da taxa de juros nos Estados Unidos. No cenário doméstico, o comité afirma que os indicadores de atividade económica e do mercado de trabalho têm apresentado maior dinamismo do que o esperado.