Assim está Portugal: melhor do que há um ano no índice de risco de pobreza interna, mas ultrapassado pela Letónia no rendimento mediano mensal das famílias europeias.
O retrato do país traçado pela Pordata por ocasião do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que hoje se assinala, espelha desigualdade. Mas há uma pequena conquista: ataxa de risco de pobreza caiu para 16,6% em 2023, último ano para o qual existem dados disponíveis. São menos 0,4 pontos percentuais (p.p.) face aos 17% de 2022, que se ficam a dever a “um desagravamento nas famílias com crianças”.
No total, 1,8 milhões de pessoas vivem em famílias com rendimento inferior a 632 euros mensais per capita, o que equivale a dizer que se encontram em condição de pobreza e exclusão social. Uma realidade que não é fácil de entender meio século depois do 25 de Abril.
Na mira da pobreza estão desempregados, reformados, outros inativos, mas também quem trabalha. Os números recorrentemente mostram que não basta ter um emprego para estar imune. Em Portugal, o risco de pobreza de quem está empregado era em 2023 de 9,2%, embora, neste indicador e à semelhança do geral também haja uma melhoria de 0,8 p.p. face ao ano anterior.
A pobreza existe à nossa volta, persiste. A maior incidência verifica-se na população sem emprego. Com efeito, 44% dos desempregados vivem em agregados com rendimentos abaixo do limiar.
As famílias monoparentais com crianças são as mais vulneráveis ao fenómeno, registando a Pordata quase uma em cada três a viver com menos de 632 euros per capita. O risco também se agrava entre as pessoas que vivem sozinhas. Neste grupo, a taxa de pobreza cresceu de 24,9% em 2022 para 28,6% em 2023. Esta subida só é superada pela das famílias compostas por dois adultos com três ou mais crianças.
Na evolução de 2022 para 2023, a Pordata referencia os idosos como o grupo etário em que a taxa de risco de pobreza mais cresce, passando de 17,1%, em 2022, para 21,1% em 2023. Um em cada cinco idosos, segundo a Pordata, ou vive sozinho e tem um rendimento bruto inferior a 632 euros ou vive num agregado familiar pobre.
O retrato mostra um Portugal onde metade das famílias dispõe de um rendimento mensal per capita abaixo dos 1.054 euros, mais 14% do que em 2009, considerando o efeito da inflação (ou mais 46%, em termos nominais). O país ocupa o 19.º lugar no conjunto dos 27 Estados-membros da União Europeia, em 2023, perdendo um lugar face ao ano anterior. Embora tendo beneficiado de uma variação positiva (6,9%), a Letónia andou mais rápido e ultrapassou-nos em 14 euros. No ranking do rendimento mediano mensal das famílias europeias, a Espanha está quatro lugares à frente, mas a...550 euros de distância.
Continuando a olhar para os dados. De acordo com as declarações de IRS de 2023, cada contribuinte em Portugal declarou, em média, um rendimento bruto mensal de 1.155 euros, depois de descontado o IRS. A Grande Lisboa ganha este campeonato, com 1.375 euros, à frente de Setúbal e da Área Metropolitana do Porto. Na capital várias freguesias de grande dimensão apresentam valores superiores a 2.500 euros, caso do Parque das Nações e do Lumiar.
Neste rectângulo à beira mar plantado, Oeiras, na Área Metropolitana de Lisboa, e Tâmega e Sousa, na região Norte, são os extremos. Os números da Pordata ajudam, aliás, a compreender o fenómeno Isaltino de Morais, o autarca que já venceu 11 eleições numa terra onde os extremismos não colhem.
Subúrbio de Lisboa há três décadas e meia, Oeiras apostou na criação de empresas de base tecnológica e empregos qualificados, alicerçando neles o seu desenvolvimento económico e social. É o município com maior rendimento médio de Portugal: 1.637 euros, praticamente dobra os 883 euros do Tâmega e Sousa, uma região industrial do norte de Portugal dominada por sectores de mão de obra intensiva, como o calçado e o têxtil. Realmente desigual.
Portugal melhora na pobreza, mas cai no rendimento a 27
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Portugal faz descer o índice de pobreza para 16,6% em 2023. Mas cai um lugar no contexto europeu do rendimento mediano mensal das famílias. É 19º entre os 27 Estados-membros.