A artista resistiu a lançar este pião. Mas fê-lo um sem-número de vezes na sua imaginação. Desenhou-lhe o movimento, a dança elegante, circular, até tombar no chão, zonzo de tanto rodopiar. E eis que o nome emerge: “Rodopio”. E a tal dança, que não podia emanar apenas do movimento. Era preciso testar flora e fauna no seu corpo. na curvatura que o caracteriza. Mas falamos de quê, afinal?
Da colaboração inédita da arquiteta, designer e artista Joana Astolfi com as faianças Bordallo Pinheiro, no âmbito da coleção WWB – WorldWide Bordallianos. Uma edição especial, numerada e limitada a 140 exemplares, produzidos na fábrica das Caldas da Rainha, onde cada peça é cuidadosamente moldada e pintada à mão por artesãos da marca. Porquê 140? Porque são esses os anos que esta casa leva de vida. Um detalhe, é certo, mas que acrescenta ao percurso da marca portuguesa a patine do tempo e do reconhecimento, nacional e internacional.
Mas regressemos ao processo criativo desta inesperada e divertida peça em faiança, que apetece tocar para sentir os materiais, o relevo, a textura acetinada do corpo antes de percorrer as figuras que o integram, numa clara homenagem ao ato de brincar, ao movimento e à fantasia que habitam o universo Bordalliano. Um universo particularmente querido para a designer, que desde sempre se identificou com o ‘bestiário’ de Rafael Bordalo Pinheiro, pelas notas de humor e pelo caráter lúdico de cada peça. Como aquela que serviu de trigger para a composição deste “pião”, descoberta entre os milhares de peças do acervo das Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro.
Na apresentação deste “Rodopio”, que decorreu no boutique aparthotel The Verse, em Lisboa, Joana Astolfi entusiasma-se a falar nas suas descobertas para compor este pião. “Para mim”, diz, “[o pião] foi sempre um símbolo do meu fascínio por brinquedos e jogos. Aqui, a escala foi ampliada para lhe conferir força e impacto visual”, salienta, acrescentando que cada vez mais se entrega a projetos de pequena escala e ao gozo de imaginar como “fisicalizar as ideias” que vão ganhando forma nos seus sketchbooks. E eis que nos adiantámos novamente ao curso da conversa. Afinal, qual foi a peça que detonou o storytelling de “Rodopio”? “Um pequeno paliteiro do Bordalo: um forcado agarrado a um touro, como nas pegas [de touros].” Joana Astolfi exulta com essa descoberta. O elemento humano ganhava direito a figurar no pião, mas não iria ‘pegar’ touros, e sim correr pião acima. Movimento dentro do movimento.
Fuga? Anseio de chegar ao topo? Superação? Medo? A explicação surge de imediato. “O pião é habitado por serpentes e figuras em miniatura que selecionei do universo da Bordallo Pinheiro, e as cores utilizadas na sua pintura foram criteriosamente escolhidas”. Verdes e castanhos mesclados, camadas de cor que acentuam a elegância das formas longilíneas das “serpentes que habitam a peça. Invadem-na, subindo por ela acima, enrolando-se à volta dela. As figuras em fuga agarram-se ao pião e abraçam-no como se lutassem pela vida. Outras seguram-no na base, como se tentassem travar o movimento, o rodopio.” Joana Astolfi diz ainda que é deste “embate, de desafio e proteção, que nasce o movimento que conta a história desta dança contínua.” Absolutamente “playfull”, realça.
Esta peça de coleção estará em destaque não só nas lojas Bordallo Pinheiro/Vista Alegre e respetivo site, mas também na pop-up que, nos dias 12, 13 e 14 de dezembro, tem como casa a Galeria OOCA, na Rua do Olival, em Lisboa.
Onde nos leva a brincadeira e o humor de Joana e Rafael?
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A uma deliciosa peça de edição limitada. O convite partiu das Faianças Bordallo Pinheiro à designer Joana Astolfi, uma fã assumida do humor bordaliano. Agora, acrescenta-lhe a sua patine.