A tensão no Mar Vermelho está a complicar a vida às exportadoras nacionais, comos preços para enviar bens para o outro lado do mundo a aumentar, retirando competitividade às exportações nacionais.
Os ataques dos rebeldes Houthis do Iémen está a obrigar a desviar rotas pela África do Sul, pela rota inaugurada por Vasco da Gama há mais de 500 anos, aumentando os tempos de entregas e com os custos a disparar.
“Oacréscimo dos custos dos fretes tornam as exportações menos competitivas, mais caras. Já estávamos com dificuldade acrescida com o aumento dos fretes e desde que esta instabilidade começou os fretes já aumentaram 30%. Émuito dinheiro. A alternativa de ter de vir cá abaixo à África Sul encarece o custo”, disse ao JE o presidente da CIP Armindo Monteiro.
Por sua vez, Nuno Rangel, CEOda Rangel Logistics Solutions, aponta que os transportes marítimos estão a registar “atrasos de 12 a 15 dias” com o “desvio pelo Cabo da Boa Esperança”. “Apartir de agora vai começar a ter mais impacto, mais navios desviados”, afirmou.
“Face há um mês, o preço já estará no triplo, e vamos ver se fica por aqui. Muitos importadores estão muito afetados, estão a levar o triplo do preço pelos contentores”, revela Nuno Rangel ao JE.
Armindo Monteiro aponta mesmo que estão a aumentar os custos para a Europa e para os Estados Unidos “em detrimento daqueles que têm proximidade maior, tanto geográfica como de afetos”, cujos navios “passam tranquilamente” naquela região. “Como não temos nem uma coisa nem outra, estamos naturalmente a suportar esse aumento”, conclui.
Os analistas já temem um impacto na inflação com o aumento de custos, mas afastam, para já, um cenário mais grave. “Apesar do desvio prolongado da rota do Mar Vermelho poder aumentar o preço dos transportes ainda mais e ter um efeito na inflação”, o Goldman Sachs não prevê um “choque nem tão mau nem tão prolongado como em 2020-2022 devido ao aumento de navios e por não existirem congestões de portos”, como aconteceu durante a Covid-19. O banco aumentou a sua previsão para a inflação em maio na zona euro: de 2,2% para 2,3%, prevendo 2% no fim do ano.
Desde novembro, que os rebeldes Houthis do Iémen já lançaram 26 ataques contra navios no Mar Vermelho. Pelo Mar Vermelho passa 40% do comércio entre a Europa e a Ásia. As entregas de gás natural, por exemplo, ainda não foram impactadas pela tensão no Mar Vermelho. Os navios com GNL do Qatar continuam a atravessar o canal do Suez, a rota mais curta para a Europa.
Os Houtis são apoiados pelo regime iraniano e estão a realizar ataques em protesto contra a ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza. Vários gigantes da navegação mundial já anunciaram que passaram a fazer a rota de Vasco da Gama.
Esta semana, os rebeldes do Iémen lançaram um dos seus maiores ataques com 21 mísseis e drones. O ataque foi repelido por navios de guerra dos Estados Unidos e do Reino Unido que patrulham a região.
Os mercados de petróleo parecem estar a passar ao lado da tensão no Mar Vermelho. Na quinta-feira, o barril de Brent ganhava mais de 1,7% nos 78 dólares. O Barclays cortou a sua previsão de preço para este ano em oito dólares para 85 dólares por barril com os inventários em alta e prevendo que a OPEP+ demore mais tempo a aumentar a produção.
Na quinta-feira, homens armados assaltaram um petroleiro ao largo de Omã e desviaram-no para o Irão. O navio tinha carregado crude no Iraque e seguia para a Turquia.
“Quanto mais alargada for a retaliaçao contra os Houthis, maior a probalidade de escalarem os ataque contra navios civis no Mar Vermelho, contra navios de guerra e até potencialmente contra alvos no Iémen ou nos países do Conselho de Cooperação do Golfo Pérsico”, disse à “Bloomberg” o analista Ryan Bohl da consultora RANE Network.