Os argumentos são de peso: os números dos mortos (e a sua relação de grandeza com os mortos israelitas de 7 de outubro, isto é, cerca de 1.200 contra mais de 23 mil), mas também as inúmeras declarações inflamadas feitas por ministros do governo de Israel sobre os palestinianos em Gaza – algumas delas apelando à sua total remoção para os países árabes – e ainda a impossibilidade de fazer chegar auxílio humanitário aos palestinianos. São estes os três principais argumentos que a África do Sul apresenta por estes dias no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) de Haia, Países Baixos, naquela que é a primeira vez que Israel responde por acusações de genocídio.
Num primeiro momento, os representantes da África do Sul pedem ao tribunal que se pronuncie em favor da uma declaração que imponha o fim dos ataques israelitas na Faixa de Gaza – se se der o caso de o coletivo de juízes ter como plausível que a decisão final (que pode demorar muitos meses) possa ir no sentido de aceitar a acusação de genocídio. Para muitos, essa decisão é provável, mas a questão de fundo é outra: até que ponto Israel acataria uma ordem de parar com a guerra? A resposta é, para a maioria dos analistas: até ponto nenhum. Com um histórico de não aceitação de decisões tomadas à luz do Direito Internacional (por parte da ONU), é altamente improvável que o governo de crise liderado por Benjamin Netanyahu aceite parar a guerra mesmo que Haia tente impor o seu fim. As declarações de todos os envolvidos, Netanyahu incluído, vão nesse sentido.
Mas, mesmo que isso aconteça, alguma coisa vai mudar no cenário de Gaza: se Israel foi instado a parar a guerra e não o fizer, a ‘sua’ guerra será um fator de ainda maior distanciamento entre o Estado hebraico e a comunidade internacional. Para já, não se sabe qual será a resposta dos Estados Unidos – mas o que se sabe é que a Casa Branca está cada vez mais sozinha no auxílio prestado ao esforço de guerra de Israel em Gaza. Já nem os tradicionais apoios do Reino Unido, do Canadá e da Austrália estão a funcionar.