Más notícias para a maior economia do mundo: o crescimento no primeiro trimestre ficou bastante abaixo do previsto e a inflação voltou a subir, mantendo-se distante do objetivo de médio prazo da Reserva Federal. Segundo os analistas, tal não mudará a direção da política monetária, mas serão dados que reforçam a sua cautela.
O PIB americano avançou apenas 1,6% em termos anualizados nos primeiros três meses do ano, bastante menos do que os 3,4% do trimestre anterior e do que os 2,4% projetados pelo mercado. O consumo desiludiu, ao abrandar para 2,5% depois de subir 3,3% no último trimestre de 2023, mas manteve uma contribuição positiva de 1,68 pontos percentuais (p.p.) para o resultado final.
Também o investimento público teve uma contribuição positiva e importante para o PIB, compensando o peso criado pela descida das exportações líquidas. O investimento residencial acelerou a uns impressionantes 13,9%, enquanto os inventários pesaram no PIB.
Apesar de considerar os resultados globalmente negativos para a maior economia do mundo, o banco ING argumenta que o cenário pintado pelos inquéritos privados de mercado, como o de gestores de compras (PMI), é bastante mais negativo do que os números do crescimento mostram. Para as próximas leituras, o banco espera que “a cautela das empresas traduzir-se-á em menos contratações e subinvestimento, o que acabará por se materializar no PIB”.
Ao mesmo tempo, a economia continua abaixo do que seria expectável se se tivesse mantido a trajetória pré-pandémica, ainda que “apenas por um par de pontos percentuais”.
Do lado dos preços, o cenário não foi mais animador. O índice de gastos pessoais de consumo (PCE) acelerou novamente, chegando a 3,4% em termos anualizados – o valor mais elevado no último ano. No trimestre anterior, este indicador, o preferido pela Fed na avaliação da pressão nos preços, havia ficado em 1,8%. Olhando para o índice core, que exclui as componentes energética e alimentar, as mais voláteis, o indicador ficou em 3,7%.
Esta pressão criada pelos preços tem levado a uma descida assinalável da taxa de poupança, à medida que os norte-americanos acorrem a estas para fazer face à inflação. o primeiro trimestre registou 3,6% neste indicador, nova descida em relação aos 4% do quarto trimestre de 2023 e bastante abaixo da média pré-pandémica de 6,9%.
A visão dos analistas é que os cortes de juros ficaram ainda mais longe, isto depois de semanas de ajuste pelos investidores, que apostavam em reduções de taxas em breve. Michael Brown, analista sénior na Pepperstone, argumenta que os números “não devem alterar materialmente as perspetivas de política, com uma abordagem dependente dos dados a manter-se”, mas alterou significativamente as expectativas do mercado.
Se há um mês os investidores atribuíam 63,7% de probabilidade a juros diretores entre 5% e 5,25% em junho (ou seja, uma descida de 25 pontos em relação ao atual nível), este valor caiu para 16% na quarta-feira. No dia seguinte, após a divulgação dos dados do PIB e PCE, a probabilidade estimada era de apenas 9,3%. Na mesma linha, o ING adianta que “não há hipótese de cortes antes de setembro”. Antecipando igual conclusão, Michael Brown lembra que os dados do primeiro trimestre são frequentemente alvo de fortes revisões, ao passo que a economia americana “continua a superar os restantes mercados desenvolvidos”.