Primeiro-ministro há menos de meio ano, Donald Tusk – líder da chamada Plataforma Cívica e ex-presidente do Conselho Europeu – está em perfeita rota de colisão com o presidente da Polónia, Andrzei Duda (eleito em 2015 com o apoio do partido Lei e Justiça, PiS). Tudo por causa de repetidas declarações do presidente segundo as quais a Polónia está disponível para que os Estados Unidos instalem armamento nuclear no território.
Tusk quer mais detalhes sobre esta posição de Andrzej Duda. “A ideia é muito impactante e muito séria, diria. Eu deveria saber todas as circunstâncias que levaram o presidente a fazer esta declaração”, disse o chefe de governo de Varsóvia. O primeiro-ministro quer entender as intenções do presidente, “mas também quero que todas as iniciativas sejam muito bem preparadas pelos responsáveis – e que todos nós estejamos convencidos de que é isso que queremos”.
A questão inscreve-se na ‘guerrilha’ que se instalou entre a presidência e o novo primeiro-ministro e, segundo os jornais polacos, resulta do facto de Duda estar a fazer tudo para evidenciar aos polacos que Donald Tusk não é primeiro-ministro certo (nem é membro do partido certo) para manter a segurança interna face às ameaças externas – leia-se, a Rússia.
Para André Pereira Matos, investigador e analista da Universidade Aberta, “é uma proposta completamente despropositada”, uma vez que levaria a Polónia para a primeira linha dos ‘ódios externos’ da Rússia (e como é complexa a história da relação entre os dois países!). Mas, principalmente, Pereira Matos tem as maiores dúvidas que os Estados Unidos (e a NATO) alguma vez venham a aceitar a proposta. “Nota-se que, depois de uma primeira fase em que o discurso da NATO em relação à Rússia foi muito duro, agora está suavizado. E este tipo de discurso [da Polónia] não ajuda” ao desanuviamento das relações entre as duas potências.
Por outro lado, “este nacionalismo securitário” terá com certeza motivações radicadas na política interna, refere o investigador – que só uma ‘distração’ do presidente explica que tenham sido misturadas com um assunto desta importância global.
Até agora, referem os jornais, o governo norte-americano não deu nenhuma indicação de que está a considerar estacionar armas nucleares no leste Europeu – o que Moscovo provavelmente veria como uma provocação direta. Ao longo da guerra na Ucrânia, ficou evidente – pelo menos nesta fase – que a Rússia não tem interesse em estender o conflito para lá da fronteira entre a Ucrânia e a Polónia, como ficou claro quando um míssil ‘perdido’ caiu em território polaco em novembro de 2022.
Mas tudo isso pode alterar-se se a Rússia for confrontada com a evidência de que há novas armas nucleares apontadas a Moscovo numa geografia que lhe é próxima. “A Rússia levará em conta a possível instalação de armas nucleares dos EUA na Polónia“, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, citada pela agência TASS.
“Parece que Varsóvia está deliberadamente à procura de atrair mais atenção daqueles que lidam com planeamento militar no Estado-maior russo. Seria lógico supor que, uma vez que as armas nucleares dos EUA apareçam na Polónia, instalações relevantes serão imediatamente colocadas na lista de alvos legítimos em caso de um confronto armado direto com a NATO”, esclareceu a porta-voz. Maria Zakharova classificou a declaração de Andrzei Duda como “provocadora”. “As autoridades da Polónia não escondem os seus esforços para se aproximar das armas nucleares dos EUA implantadas na Europa e estão a usar ativamente essas ambições no quadro da sua política hostil para com a Rússia. Isso faz-nos olhar mais de perto para a Polónia na nossa análise militar, levando em conta as ameaças à Rússia que são geradas com a participação deste país”, disse ainda.
Entretanto, a União Europeia falhou em dar resposta ao apelo feito pela Ucrânia para obter mais capacidades de defesa aérea ao não apresentar compromissos concretos numa reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa. Fica claro que qualquer ajuda à Ucrânia por parte da UE é um assunto que precisa de bastas negociações - que não se coadunam com a urgência das necessidades.