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IA na saúde. "Decisão é sempre clínica. As máquinas não tomam decisões", destaca diretor da GE HealthCare

Que riscos e oportunidades no que concerne à ligação da Saúde à Inteligência Artificial? Rui Costa, diretor-geral da GE HealthCare em Portugal, diz em entrevista ao JE como é que essa mudança já está a acontecer mas enfatiza as cautelas face à perspectiva de autonomia da tecnologia.

Com a saúde na ordem do dia, seja pela reivindicações dos quadros, pelas condições do Serviço Nacional de Saúde e a articulação do público com o privado, o tema da produtividade neste contexto ganha expressão, sobretudo quando se coloca a variável tecnologia. Em entrevista ao JE, Rui Costa, diretor-geral da GE HealthCare em Portugal, revela todo o panorama de inovação tecnológica e como este também vai mudar o paradigma na saúde.

A GE HealthCare é uma empresa norte-americana que se dedica à comercialização e assistência técnica de equipamentos hospitalares em distintas áreas, nomeadamente em quatro vertentes: imagiologia médica, ecografia, equipamentos para cuidados críticos e a fármacos ligados à medicina nuclear.

Esta empresa pertencia ao grupo General Eletric até ao final do ano passado, chegou a Portugal há cerca de 90 anos para comercializar uma vasta gama de artigos, da iluminação à artigos ligados a cuidados de saúde. Atualmente, conta com 85 colaboradores em Portugal e tem um volume de negócios anual superior a 40 milhões de euros.

Qual é o papel da GE HealthCare na sociedade?

A GE Healthcare é uma empresa que se dedica à comercialização e à assistência técnica de equipamento hospitalar em distintas áreas, essencialmente em quatro verticais, a imagiologia médica, a ecografia, digamos os equipamentos para cuidados críticos hospitalares, e os, fármacos ligados à medicina nuclear, nomeadamente aos rádio isótopos para exames de medicina nuclear e aos meios de contraste radiológico.

A empresa disponibiliza equipamentos cada vez mais inovadores para diminuir o impacto naquilo que é a aquisição da imagem e o tratamento dos pacientes, ou no período em que temos que identificar uma possível enfermidade, uma possível doença.

A inovação tecnológica neste sector é notória. Estes são equipamentos passíveis de atualizações?

Depende. Se estivermos a falar de equipamentos mais pesados, cujo valor de investimento é superior, é feita uma atualização de software periodicamente, nomeadamente nos clientes que têm os equipamentos sob contrato connosco, ao longo do tempo nós vamos atualizando aquilo que é software para aquilo que são os lançamentos.

Se estivermos a falar em softwares que tenham novas funcionalidades também são propostas a instalar nos equipamentos existentes. Há uma outra possibilidade, que é muito frequente, que é em equipamentos que necessitam de facto de ser atualizados tecnologicamente ao nível do hardware, ou seja, mantém as componentes estruturais, digamos core e substitui se a parte electrónica que lhe permite ter essas mesmas funcionalidades acrescidas, em equipamentos móveis é menos frequente que isso aconteça.

Esta é uma prática que sentimos falta nos equipamentos do SNS, porque a atualização contínua, embora a manutenção seja garantida, a sua atualização contínua, carece de ser submetido ao Código de contratação pública, que muitas das vezes é complexo e requer alocação de investimento, o que faz com que os hospitais quando pensam em investir é para substituição de equipamentos.

Se falha essa atualização em equipamentos presentes no SNS, essa situação compromete a produtividade neste serviço?

A minha perceção pessoal é que o sistema nacional de saúde como um todo está a ser analisado em tudo o que tem a ver com as suas interligações, ou seja, está a ser analisada não só de per si a atenção primária, a atenção hospitalar, os cuidados continuados, os cuidados paliativos, a saúde mental, mas está a ser feita uma interligação entre as unidades do Sistema Nacional de Saúde. Esta interligação permite desde logo uma capacidade de utilização do histórico do doente de uma forma muito mais integrada. Por outro lado, está se a tentar fazer isso e urge. Urge que se acelere o mapeamento exaustivo de ter base instalada de equipamentos pesados nas instituições do Sistema Nacional de Saúde, de maneira a podermos aferir quais é que estão instalados, quando é que foram instalados, logo qual a sua antiguidade e que se possa planificar a alocação de recursos para a sua substituição ou para a sua atualização, combatendo essa mesma obsolescência.

Portanto, esta inventariação está a ser feita e esperamos todos, enquanto cidadãos e enquanto indústria e também enquanto os responsáveis pelos hospitais, possa ser disponibilizada rapidamente de maneira a que depois possam ser definidas as prioridades de investimento para que possa ser feito um investimento de maneira a combater esta obsolescência o mais rápido possível e melhorar a inovação disponibilizada aos clínicos e, em última análise, aos doentes, aos utentes do sistema.

São necessários seguramente recursos financeiros massivos muito significativos. Portanto nós devemos utilizar parte do PRR e parte do Portugal 2030 em conjunto com as dotações do Orçamento Geral de Estado. Porque a procura de cuidados aumentou e porque nós temos de apostar no diagnóstico precoce, logo nos meios de rastreio e diagnóstico antes do aparecimento de sinais de doença

A tecnologia tem um papel importante na saúde. Poderá essa inovação diminuir tempos de espera?

A tecnologia tem um papel também aí. Na priorização, ou seja, não é igual o diagnóstico ser de uma lesão que é conhecida, que está tipificada e que tem um tempo de evolução X do que identificar uma lesão que tem um tempo de evolução Y muito superior a X.

Ou seja, a priorização de Y no tratamento, nos cuidados, no seu tratamento posterior tem que ser muito maior. Portanto, a tecnologia tem um papel na identificação e no fluxo de trabalho.

É fundamental que os sistemas estejam interligados, quando os médicos têm os processos clínicos agarram nos dados que têm e priorizam os pacientes em função da sua criticidade. Quanto mais críticos, mais rapidamente têm de ser tratados para poderem ter melhores resultados. Os sistemas tecnológicos podem e devem e fazem isto, dizem que uma determinada lesão tem uma probabilidade de ser uma lesão com uma evolução rápida, logo, a probabilidade do paciente ter melhores resultados se for rapidamente tratado numa consulta, por exemplo, de cirurgia oncológica específica é muito maior.

Como é que a Inteligência Artificial vai ser utilizada na saúde?

Deixe-me dar-lhe uma indicação naquela área da saúde que tem sido talvez a área onde mais tem crescido a utilização da inteligência artificial e dos algoritmos baseados em 'big data' nos últimos tempos que é a área da radiologia médica.

Imagine que tem ao seu lado um assistente ou uma assistente capaz de fazer uma série de tarefas na aquisição de imagem, muito mais rapidamente porque as automatiza, consegue fazer uma identificação de lesões que lhe pode dizer atenção a isto, atenção aquilo, atenção aquela zona da sua imagem, que lhe pode dizer que isto está relacionado com este tipo de patologia. Os algoritmos de inteligência artificial e a inteligência artificial na radiologia têm este efeito. E têm vindo a ser desenvolvidos ao longo de três áreas, portanto, são uma realidade absoluta.

Há um número muito significativo de equipamentos de qualquer marca que já têm incorporadas ferramentas ligadas ao deep learning ou mesmo à inteligência artificial. A decisão é sempre clínica. As máquinas não tomam decisões.