O centro de excelência do banco francês Natixis situa-se no Porto e atingiu, ainda antes do final do ano, a meta a que comprometia de ter 1.500 trabalhadores em Portugal, maioritariamente talento tecnológico, de 20 nacionalidades. Quem entra neste hub de excelência depressa se sente numa multinacional ao estilo de Silicon Valley, cheia de cor, post-its, salas com campos de ténis de mesa e Playstation, trotinetas estacionadas nos cubículos ou hortas comunitárias. É a resposta possível à guerra pelos recursos humanos, que não só teima em não desaparecer como se agudiza com a maior concorrência no sector e digitalização da sociedade.
“Há uma luta feroz pelos talentos portugueses. Vamos às universidades porque precisamos dos recém-licenciados, mas claramente há concorrência. Por isso, também vamos lá fora, ao Brasil, à Índia e a África”, disse ao Jornal Económico (JE) o diretor geral da Natixis em Portugal, Etienne Huret, que chegou à liderança do mercado português da Natixis em agosto de 2020, depois de carimbar o currículo em empresas como o banco Société Générale ou a Accenture.
Inicialmente, quando se instalou na Invicta, em 2017, a instituição financeira tinha como objetivo recrutar 600 pessoas na área das tecnologias da Informação (TI), mas desde fevereiro do ano passado que passou também a contratar para as áreas de Gestão, Economia, Finanças e Direito, tornando-o num dos maiores investimentos em recursos humanos alguma vez realizados pelo grupo – que resultou da fusão das operações investimentos e de gestão de ativos do Natexis Banque Populaire e IXIS - em todo o mundo. O edifício detido pela Soares da Costa, cuja eminência interior passa despercebida a quem na rua passa, encontra-se na freguesia do Bonfim e conta na vizinhança com unicórnios e empresas tecnológicas de renome, como a Farfetch, a Feedzai ou a Blip.pt.
“[A sede em] Paris tem 8 ou 9 mil pessoas e não está na nossa ambição chegar até lá, mas vamos continuar a crescer no TI, nas operações e [no departamento de] risco financeiro. Estou satisfeito com o caminho que iniciámos há quase dois anos de diversificação das nossas atividades. Vamos criar algumas novas equipas, da divisão financeira, para gestão de performance, relatórios regulatórios e risco de crédito”, avançou Etienne Huret ao JE, enquanto percorria os pisos do seu “viveiro de talentos” no Norte.
Com quase três décadas de experiência no sector bancário, Etienne Huret considera que a sua ligação à Índia permite-lhe ser um managing director mais consciente e curioso pelos assuntos que desconhece, por causa da conexão entre os seres humanos, da simplicidade e de ser um país muito emocional. Aliás, foi capaz de atrair 15 profissionais indianos altamente qualificados para o Porto, procurando hoje retê-los com celebrações do Diwali nos escritórios e outras iniciativas semelhantes.
“Acho que sou uma melhor pessoa desde que vivi e trabalhei na Índia, com todo o conhecimento de vida que se adquire, mas ainda tenho muitas coisas para aprender.
Nunca devemos achar que algo é para sempre porque tudo está constantemente a mudar rapidamente. Pessoalmente, hoje é o meu filho de 16 anos que me está a ensinar imensos temas novos sobre inteligência artificial, blockchain… Nunca devemos sentir-nos na posição de poder afirmar «está feito». Na Natixis isso não existe”, afiança, perante corredores e open spaces meio ocos por 70-75% dos colaboradores estarem em teletrabalho.
Apesar de crente no modelo híbrido, Etienne Huret garante que não se aprende tanto quando se está sozinho em casa. “Não és capaz de apanhar conversas de corredor, o humor e as preocupações dos colaboradores… Cara a cara às vezes dá para perceber os seus desafios”, desabafa, brincando com o exemplo de um amigo que tinha um personal trainer durante os confinamentos e apercebeu-se de que o treinador se estava a tornar muito mais exigente porque através das videochamadas não via a quantidade de suor que já lhe saia pelos poros.
Ao JE, o diretor geral da empresa faz um balanço “muito positivo” de iniciativas de recrutamento em Lisboa como o “Natixis Open Day LX Edition”, que vai além do número de entrevistas e de novos colaboradores contratados que daí resulta, porque visa sobretudo dar a conhecer a Natixis em Portugal, a sua cultura e os planos de crescimento. Atualmente, a taxa de retenção de estagiários fixa-se nos 85%.
“A campanha de recrutamento direcionada a perfis juniores, que decorreu entre julho e novembro, permitiu captar perto de 150 jovens talentos. Estamos a trabalhar para, logo que o contexto pandémico permita, levarmos o Natixis Bus a outros polos universitários, como o Minho (Braga e Guimarães), Porto, Aveiro, Coimbra e Trás-os-Montes (Vila Real e Bragança). A iniciativa irá chamar-se “Purple Tour”. O objetivo será conseguir contactar estudantes interessados em realizar o seu projeto de fim de curso/estágio curricular na Natixis entre os meses de março e julho. Temos o centro de excelência no Porto, mas acreditamos que o talento está em todo o lado”, adiantou ainda o gestor, que tem uma relação de longa data com terras lusas.