A revolução de milhões fora dos três grandes do futebol português faz-se sobretudo com sotaque do norte. Esta é a conclusão do último estudo da Football Benchmark que faz uma radiografia do futebol português e encara aquele que designa de “hub do norte” como um cluster gerador de muitos milhões em transferências, uma lufada de ar fresco perante a predominância dos três grandes. A prová-lo está o saldo de transferências garantido na última década, ou seja, entre as temporadas 2015/16 e 2024/25. Nos dez clubes portugueses que garantiram os saldos mais chorudos nesse período, só três não estão no norte do país. Os sete clubes que dominam o futebol nesta região, pelo menos no que aos números diz respeito, garantiram em conjunto um saldo positivo em transferências de 546,5 milhões de euros. Assim, entre compras e vendas, estes emblemas conseguiram garantir para os seus cofres verbas significativas que permitem concluir que há um caminho de sustentabilidade financeira que está a ser feito pelos clubes de média dimensão em Portugal.
O SC Braga, que para muitos é considerado um quarto grande no plano desportivo mas também ao nível das receitas que garante em transferências, lidera destacado no saldo de transferências garantido no período entre 2015/16 e 2024/25. Sozinho garantiu, entre compras e vendas, um saldo positivo de 240,7 milhões de euros. Na última janela de transferências, a SAD liderada por António Salvador prosseguiu esse caminho de sustentabilidade ao garantir o segundo melhor saldo, com 22,2 milhões de euros positivos (melhor só o Sporting CP com quase 60 milhões de euros. A SAD bracarense foi também a quarta que mais amealhou em vendas: 50,8 milhões de euros. Logo a seguir surge o Vitória de Guimarães com um balanço positivo de 124,2 milhões de euros garantido nas últimas dez épocas. Numa pesquisa mais detalhada, verificamos que a SAD vimaranense consolidou este estatuto de sustentabilidade financeira sobretudo na temporada anterior, período em que fez 44,7 milhões de euros em vendas (grande parte do valor na janela de transferências de janeiro). Ainda a norte está o Famalicão com um saldo de 74,3 milhões de euros; o Rio Ave que garantiu um balanço positivo de 38,3 milhões de euros e o Arouca que ficou muito perto com 30,2 milhões de euros. Nos clubes com a pronúncia do norte fecham a tabela o Gil Vicente, com 19,5 milhões de euros e o Moreirense FC, com 19,3 milhões de euros. Fora deste universo de clubes do norte, destaque para a Portimonense SAD que garantiu um saldo de 95,5 milhões em dez anos (o terceiro mais robusto); o Estoril-Praia com 55,3 milhões na quinta posição e o açoreanos do Santa Clara em oitavo lugar com um saldo de 23,8 milhões.
Apesar da capacidade de vender estes ativos, num mercado cada vez mais concorrencial, o relatório da Football Benchmark identifica que a negociação de jogadores continua a ser o principal motor financeiro do futebol português. “Na última década, muitos clubes registaram sistematicamente saldos positivos de transferência com os três grandes a excederem regularmente os 50 milhões de euros por época”, destaca este relatório. Destacam os autores deste relatório que embora SL Benfica e Sporting CP “sejam frequentemente considerados referências no desenvolvimento de talento, atraindo a atenção de investidores para a Área Metropolitana de Lisboa, os dados indicam que os registos de transferências mais significativos têm-se concentrado no norte” Assim, conclui o Football Benchmark, “para muitos destes clubes, a negociação não é simplesmente uma fonte de rendimento, mas sim a própria base do seu modelo de negócio”.
Encaixar muitos milhões não é só para os três grandes
Nas últimas dez épocas, fora do universo dos “grandes”, foram os clubes do norte a dominar os saldos de transferência: quase 550 milhões. Mas há uma grande dependência destas vendas.
