Tudo começou numa viagem de finalistas em 1987: o jovem João Paulo Freitas aceitou o desafio dos colegas de curso e, mesmo sem qualquer experiência em desportos de neve, fez a mala e foi até à Sierra Nevada. Entre os companheiros de viagem, era dos poucos que nunca tinha feito esqui ou outra modalidade que lhe permitisse garantir algum equilíbrio. Ainda assim, foi o primeiro a começar a fazer paralelas, ou seja, ultrapassou uma fase inicial da aprendizagem, fazer cunha com os esquis, a primeira meta para quem começa. Hoje, João Paulo Freitas dá voz à envolvente narração da Taça do Mundo de Esqui Alpino, cuja 60º edição arrancou no final de outubro em Sölden, na Áustria. Portugal atrai 50 mil esquiadores todos os anos, de acordo com um estudo da HelloSafe. A plataforma estima ainda que entre 30 mil a 150 mil portugueses viagem todos os anos para estâncias de esqui em França e Espanha. “Comecei tarde a fazer esqui. Tinha vinte e poucos anos, o que é muito tarde já que qualquer praticante começa a fazer esqui aos três anos”, recorda o narrador ao JE. 
Sem saber que um dia seria a voz portuguesa que relata as emoções da Taça do Mundo de Esqui Alpino, ficou encantado com aquele cenário pintado de branco: “Gostei de tudo: do ambiente, das paisagens... numa estância de esqui, onde quer que estejamos, a paisagem é sempre incrível. Temos aquele silêncio da montanha que é entrecortado pelo ‘shh’, que é som do esqui a passar... é fabuloso”, realça o comentador. João Paulo Freitas revela que já teve a “felicidade” de conhecer as melhores estâncias de esqui: “Das grandes faltam-me poucas. Foi uma paixão tardia mas completamente assolapada”. 
Conquistado mais um praticante de desportos da neve em Portugal, rapidamente se tornou também telespectador assíduo das transmissões na Eurosport. Lembra com emoção as grandes provas relatadas em inglês pelo lendário Nick Fellows. João Paulo Freitas trabalhava no ramo imobiliário e a paixão pelo esqui alpino era tão impactante que cancelava reuniões que calhassem à mesma hora das grandes provas. Recorda o “grande choque” que teve no dia em que ligou a televisão na Eurosport para ouvir Nick Fellows e de repente ouviu, em bom português, um “bom dia senhores telespectadores”. “Aquilo foi um choque absoluto”, lembra: “Imagine-se o que é o Maradona estar a aquecer e o narrador referir-se a ele como um atleta da Argentina... e percebia-se claramente que o narrador não estava a perceber o impacto e o histórico daqueles atletas. Acabei por ser convidado para fazer teste de cabine e comecei em 2007 a fazer a narração das provas”. João Paulo Freitas estava disposto a mudar o cinzentismo daquelas narrações em português e inspirou-se noutra grande referência do comentário desportivo em Portugal: Luís Lopes, a voz do atletismo na RTP, considerado a grande enciclopédia. “Temos que ter uma espécie de argumento na narração. 
O Luís Lopes narrava as provas de atletismo e tinha sempre uma história para nos contar e uma narrativa que a enquadrava”, destaca. “Havia sempre o corredor favorito à vitória, o atleta que desafiava o crónico vencedor, o detentor do recorde do mundo, o atleta que vinha de uma lesão e outro que era especialista naquele tipo de prova... e com toda essa história, mesmo quem não gostasse de atletismo provavelmente ficava ali preso àquele enredo”. Num país como Portugal, que não tem grande tradição nestas modalidades, João Paulo Freitas assume que é um tremendo desafio narrar estas provas. “Mas isto é verdade: quem gosta, gosta mesmo muito”.
Da Áustria à Noruega: como quebrar o gelo em bom português
                                                    
                    
                
                
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            Trabalhou no ramo imobiliário mas uma viagem de finalistas mudou-lhe a vida. João Paulo Freitas é o narrador da Eurosport que apaixona os fãs do esqui alpino. Portugal atrai 50 mil esquiadores por ano. Pistas estão quase a abrir.
