A coordenadora da Comissão Técnica Independente (CTI) que esteve a avaliar a localização do novo aeroporto de Lisboa deixa várias críticas ao atual aeroporto de Lisboa, considerando que é um "péssimo cartão de visita" para a capital e o país com "taxas altas" e "má qualidade de serviço"
Em entrevista ao JE, Maria do Rosário Partidário pede uma decisão rápida do novo Governo para escolher a localização do novo aeroporto da região de Lisboa.
No relatório, a CTI recomenda que o regulador deve ganhar poderes e que a ANA deve perdê-los, na questão da definição das taxas aeroportuárias...
As taxas têm um aspeto que é muito importante, que tem que ver com a competitividade deste aeroporto em relação a outros aeroportos noutros países, nomeadamente na Europa. Neste momento, as taxas em Lisboa estão-se a aproximar dos valores mais altos na Europa, não será o mais alto, mas é dos valores mais altos. Bem sei que há uma grande procura, mas ao mesmo tempo o nível de serviço desceu extraordinariamente. O aeroporto de Humberto Delgado foi agora considerado um dos piores aeroportos na Europa. Ora, taxas altas com má qualidade de serviço não dá bom resultado. É um péssimo cartão de visita. As pessoas gostam muito de vir a Portugal, mas há limites para os atrasos, os cancelamentos de voos, os apertos. Uma pessoa de facto anda no aeroporto e anda quase aos encontrões.
Mas este terreno também é bastante apetecível em termos imobiliários, estando avaliados em mais de 500 milhões de euros, mas o Estado pode aqui encaixar dinheiro, promover a construção de mais habitação na capital com estes terrenos. Eles podem ser usados depois para habitação?
O Plano Director Municipal de Lisboa (PDM) tem esse cenário previsto com 14,7% de ocupação. Tudo o resto seria área verde e área lúdica. Nós assumimos um VAL da operação global de 230 milhões de euros, considerando apenas a área atualmente edificada, correspondente a 7%, o VAL global da operação é negativo no valor de 126 milhões de euros. Num cenário de total renaturalização (0% de área urbanizável) o VAL global da operação seria negativo em 458 milhões de euros, o que não inclui custos de descontaminação. Para isso é preciso avaliar, fazer amostras, ver o nível de contaminação. No fundo, uma operação semelhante àquela que foi feita no Parque das Nações.
O que é que seria o seu maior desejo em relação a este processo?
Que avançasse já. Chegámos à conclusão que todos estes estudos que fizemos, que a CTA é a que tem melhores condições, por nós era avançar já.
Qual é que seria a pior opção?
Montijo.
Até mais que Santarém?
Sim, até mais que Santarém. Sim, claramente. Porque o Montijo quer dizer, o Montijo está em cima da reserva natural do estuário do Tejo. Por isso é que as organizações não-governamentais puseram um processo em Bruxelas contra a opção do Montijo. Aquilo faz parte da Rede Natura 2000 e faz parte da Diretiva Habitats e da Diretiva Aves. Está protegido legalmente e só pode ser afetado se não houver alternativa, o que não é o caso.
Perante isto, o acordo entre o Estado e a ANA para o Montijo foi uma asneirada?
Foi uma asneirada, pois foi.
Como olha para a opção Montijo?
Durante este processo todo, uma das coisas que me ocorreu foi: vamos usar a pista do Montijo tal como ela está, põe-se um barracão usados na Covid e a malta aterra ali. O problema é que não tem condições. Nem tem condições para se sair de lá, os transportes, é preciso fazer acessos, não é só em Alcochete que é preciso fazer acessos. E os acessos em Montijo passam no meio do centro urbano. E o facto de não ter capacidade para crescer e portanto estar a fazer obras que vão durar dez anos ou 20 anos parece-nos um bocado desperdício.