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Abrandamento global da indústria preocupa na Europa, China e EUA

O sector secundário começa a sentir em pleno os efeitos negativos do ambiente macro internacional, com contrações projetadas da atividade na zona euro, EUA (onde até se esperava uma melhoria das condições) e uma desaceleração na China, o motor industrial mundial.

A atividade industrial na zona euro continuou a deteriorar-se em junho, penalizada por uma procura fraca e pela performance do motor da economia europeia, a Alemanha, onde as dificuldades são ainda mais evidentes. A juntar a este resultado, a China também tem registado uma desaceleração do sector secundário, o que não deixa antever grandes perspetivas para o bloco da moeda única.

A leitura divulgada esta segunda-feira referente aos índices de gestores de compras (PMI) da indústria europeia mostra um cenário bastante negativo, com as principais economias em zona de contração, ou seja, abaixo de 50.

Comparando com a estimativa rápida divulgada na semana anterior, França até registou uma correção em alta interessante, passando de 45,5 para 46,0, alterando assim o comportamento deste subindicador em relação aos 45,7 de maio. No entanto, esta revisão foi mais que compensada pelo corte na indústria alemã, cuja estimativa inicial de 41,0 afundou ainda mais para 40,6, e italiana, onde a leitura flash de 45,3 ficou muito acima dos corrigidos 43,8.

Olhando para o quadro global da zona euro, a indústria europeia atravessa um período de claras dificuldades, com uma procura em queda e, portanto, menos encomendas em carteira. Este decréscimo de procura é causado sobretudo pela componente interna, com os consumidores europeus prejudicados pelo ambiente de inflação alta, juros crescentes e incerteza, mas com reflexos na procura externa.

Ao mesmo tempo, os constrangimentos nas cadeias de fornecimento continuaram a acalmar, registando o décimo terceiro mês consecutivo de recuos na leitura de junho. Na mesma linha, os custos intermédios também têm vindo a recuar, menos pressionados pela crise logística que afetou o comércio internacional durante largos meses.

Assim, o subíndice referente aos preços dos inputs caiu para o valor mais baixo desde 2009, ao passo que o relativo às expectativas de preço de venda caiu para 47,0, um mínimo desde meados de 2020.

“Isto significa que as empresas estão a perspetivar cortar preços em breve”, projeta a análise da Pantheon Macro, acrescentando que a desinflação nas componentes subjacentes do cabaz deve prolongar-se por mais alguns meses, embora do lado dos serviços as perspetivas não sejam tão otimistas.

Cenário não melhora fora da Europa

Os problemas na indústria não se ficam pela zona euro. Na China, o motor industrial mundial, o sector continua a desacelerar, com o PMI correspondente a cair para 50,5, ao passo que nos EUA a produção caiu em junho com a procura a enfraquecer.

Os números oficiais para a economia chinesa haviam já sido divulgados na sexta-feira, mostrando um sector secundário em queda e em terreno de contração, com uma leitura de 49,0 em junho. Agora, os dados da Caixin revelados esta segunda-feira pintam um cenário menos negativo e ainda em valores de expansão, mas condizente com uma atividade em recuo.

Depois de atingir máximos de onze meses em maio, o subindicador referente à produção industrial recuou ligeiramente, enquanto os custos das matérias-primas mostraram a maior queda desde janeiro de 2016. Já no que toca a entupimentos nas cadeias, estes subiram ligeiramente, embora a generalidade das empresas não reporte grande pressão nos calendários de entregas.

O economista sénior da Caixin, Wang Zhe, reconhece que “uma série de dados macro recentes sugerem que a recuperação na China ainda não encontrou uma base sustentável”, pedindo mais apoio à economia do gigante asiático.

Depois de servir como salvação para as economias ocidentais em anos de menor procura doméstica, a China não deverá conseguir impulsionar a atividade global como muitos previram aquando da sua reabertura, penalizada por fatores internos como a fragilidade no mercado imobiliário e, por conseguinte, no sistema financeiro, além do crescimento esperado bastante abaixo da média histórica do país.

Já nos EUA, o subíndice da indústria caiu de 46,9 em maio para 46,0, isto quando o mercado esperava uma subida até aos 47,2. O sector secundário norte-americano mostra menos pressão nos custos intermédios, o que deixa também antever menos inflação, mas a queda na procura interna e no emprego agravam as perspetivas.

O ritmo de novas encomendas até melhorou, mas continuando abaixo de 50, ou seja, espelhando uma queda; a principal fonte de preocupação vem do subíndice referente ao emprego no sector: ao recuar de 50,8 para 48,1, a leitura de junho sinaliza cortes na força laboral em breve, uma hipótese consistente com um sector em dificuldades e em contração.

Na mesma linha, o subindicador relativo ao output industrial passou também para terreno de contração, caindo de 51,1 para 46,7. A maior economia do mundo atravessará agora um período em que “a procura está fraca, a produção está a abrandar por falta de trabalhadores e os produtores têm limite de armazenamento”, explica Timothy R. Fiore, presidente do ISM, instituto que compila os PMI.