Eram cinco horas da tarde em ponto quando o empresário chegou ao quarto piso do Rooftop Kitchen, um café panorâmico na zona leste de Londres, uma das mais tech da capital britânica. Vestido de preto e com uma mochila às costas, este português que construiu um império no setor da moda online trocou algumas palavras com investidores e elementos das startups que participaram no segundo Dream Assembly, que teve lugar esta semana em Londres.
Questionado sobre a rentabilidade da empresa, José Neves afirmou que os planos da Farfetch vão ao encontro do que foi prometido aos investidores.
“Temos resultados muito sólidos, quer do crescimento da empresa, quer das margens que conseguimos obter do negócio. Temos um programa de investimento que vamos continuar a fazer, portanto vamos continuar a reinvestir as nossas margens do crescimento agressivo da empresa. Foi isso que prometemos aos investidores e é exatamente o que estamos a cumprir”, disse José Neves.
O CEO, que detém 15% da empresa, desvaloriza o prejuízo de 109 milhões de dólares registado no primeiro trimestre (o dobro do verificado no período homólogo), contrapondo com a forte subida nas receitas, que cresceram 39% para 174,06 milhões de dólares.
“A Farfetch teve um excelente crescimento no primeiro trimestre de 2019”, afirmou, destacando o crescimento da plataforma em termos de Gross Merchandise Value (GMV), com um aumento de 44% para 415 milhões de dólares (quase 50% se forem tidos em conta os ajustes cambiais). “Isso superou as nossas expectativas”, salientou José Neves.
Além disso, o empresário, que é hoje considerado um dos homens mais ricos de Portugal, mantém-se confiante no crescimento do setor dos bens de luxo e salienta que a empresa continua a ganhar quota de mercado.
“A plataforma vai transacionar dois mil milhões de dólares [1,75 mil milhões de euros] até ao final de 2019”, admitindo que lhe sobra muito espaço para crescer.
“Numa indústria de 300 mil milhões ainda é uma gota no oceano”, comentou ao Jornal Económico. Recorde-se que a plataforma da Farfetch terminou 2018 com 1,4 milhões de clientes ativos, reunido mais de um milhar de boutiques de moda de luxo, e a operação expandiu-se com escritórios em todas as geografias. Atualmente, o foco está virado para a China.
“Eu penso que nós já construímos uma plataforma para este setor que nunca teve uma. Só que não está completa. Há ainda muita coisa para fazer, marcas para trazer ou mercados para conquistar. A China já é o nosso segundo maior mercado, já temos 300 pessoas em Xangai, Hong Kong e Pequim e fizemos grandes investimento lá”, diz.
A Farfetch está cotada na bolsa de Nova Iorque desde setembro de 2018 e, ao final do dia de terça-feira, 11 de junho, as ações estavam a subir 5%. “Eu não ligo muito às flutuações. Tivemos um IPO extremamente bem sucedido, lançámos com 20 dólares, subimos para 34. Em novembro e dezembro, quando teve lugar o grande sell-out na bolsa, também sem razão absolutamente nenhuma descemos. Depois apresentámos resultados muito bons e voltámos a subir. Entretanto, fatores como o Trump, a China e outras coisas externas introduzem alguma volatilidade no preço. Nós temos de fazer o nosso trabalho e o valor da empresa vai resultar daí”, defendeu.
Em Portugal, além da construção de um campus em Matosinhos, que representou um investimento de 15 milhões de euros no terreno, José Neves sublinhou também a importância do nosso país na estratégia do grupo.
“Já temos mais de dois mil colaboradores em Portugal, o que é mais de metade do universo da Farfetch. Portugal é o país onde construímos a plataforma e onde temos a base de engenharia. Se voltasse a fazer tudo de novo, fazia da mesma forma”, concluiu.