"Não estamos a ver grandes investimentos por isso as coisas não estão, vamos dizer, muito negativas. Estão a manter-se, claramente há um decréscimo de volume, mas ainda não vemos uma crise". É desta forma que o CEO da Garland Transport Solutions em Portugal, Giles Dawson, antevê, em declarações ao Jornal Económico (JE), o panorama da empresa para o próximo ano, sendo que 2023 irá trazer uma descida no volume de faturação da transportadora.
"A Garland no ano passado faturou 134 milhões de euros. Depois a unidade de transporte que é gerida por mim faturou 64 milhões de euros e, no geral, está previsto um decréscimo na ordem de 10% este ano. Diria que na minha área, até um pouco mais principalmente porque há menos negócio, não temos perdido muitos clientes, há muita carga a andar, mas os volumes são muito mais pequenos e as fábricas estão a produzir menos porque os compradores estão a comprar menos", explica.
Com base neste cenário a empresa desenvolveu um projeto intermodal, que tem entre outras estratégias a contenção de custos e a descida da pegada de carvão. "O intermodal é uma forma de transporte que combina tipicamente o navio com o camião, o navio com o comboio ou os três. A ideia é baixar os custos e baixar a pegada de carvão nos transportes aos clientes e dar soluções alternativas que muitas vezes procuram", refere o CEO.
Desta forma, as mercadorias não precisam andar num camião e chegar ao destino em dois dias, quando podem chegar em quatro dias e pagar menos, até porque a localização geográfica de Portugal acaba por condicionar o percurso pela Europa por camião. "É muito caro e estamos muito longe, cada vez há mais fábricas no Leste da Europa e o camião tem que andar 2.500, 3.000 quilómetros e passa a ser muito caro para o cliente. A ideia é não depender dessa solução e ter alternativas", salienta.
O facto de Portugal ter o problema da Ferrovia acaba também por condicionar muito as movimentações da empresa pela Europa. "Não há boa conexão de Portugal com a Espanha e França. Apesar de estarem a fazer-se cada vez mais comboios daqui, depois temos que trocar quando chegamos a França e isso é um problema", realça Giles Dawson, acrescentando que a solução mais usual da empresa passa por um camião que vai até Santander ou Bilbau, onde apanha um ferry para camiões.
"Ou seja, o camião deixa só o reboque e depois é recolhido, por exemplo, nos Países Baixos, na Bélgica, na Suécia ou na Irlanda do outro lado, e vem transportado por camião ou comboio Demora mais tempo, mas, no geral, é substancialmente mais económico. Depois também há um problema para nós que é cada vez mais os transportadores dominarem, de certa forma, porque há falta de camiões no mercado, o custo de combustível é caro, há falta de motoristas e nós temos que dar soluções aos clientes", sublinha.
Para fazer face a este cenário, o CEO indica que o problema não está nos motoristas estarem dispostos a irem até Espanha ou a saírem de Portugal. "O problema é arranjar motoristas em Portugal para estarem fora duas ou três semanas e irem até destinos mais complicados", assume, dando como exemplo, o sul de Itália, onde começa a ser muito difícil arranjar uma solução para o camião.
"Podem até sair de Leixões, de Santander, Bilbau ou Valência, de Barcelona. Depois saem, em navio, até ao porto que corresponde e daí em geral há algumas soluções de comboio ou camião novamente. O que o intermodal permite é esta combinação de vários tipos de fornecedores. Hoje em dia é muito rápido. Um camião estaciona, por exemplo, no sul de França e em uma hora o contentor está em cima do comboio em andamento, é muito dinâmico. Por isso, a ideia é desenvolver toda esta dinâmica e ter uma oferta mais ampla ao cliente", afirma Giles Dawson.
Outra grande aposta da empresa foi feita em janeiro deste ano com a abertura de um escritório-armazém na cidade de Vitória, em Espanha, a 700 quilómetros da Maia. "É onde o motorista descansa e fazemos muita consolidação de cargas que vão para a Europa ou vêm da Europa e tentamos que os camiões vão todos muito cheios e não temos espaços vazios. Se um camião, por vezes, sai com espaço, então vamos arranjar uma carga no norte de Espanha para assegurar, por exemplo, que vai cheio numa deslocação para a Polónia", salienta o CEO.
Questionado sobre as perspetivas para o próximo ano, Giles Dawnson acredita que não vai ser de grande retorno. "Acho que o ano que vem não vai ser muito diferente, mas os últimos cinco anos ensinaram-nos muita coisa. O ano de 2020 foi um dos piores da história para nós com a pandemia. O ano seguinte foi um dos melhores da história. É difícil saber o futuro, mas estou bastante optimista que pelo menos vai manter-se o ritmo sustentável e não temos que fazer grandes mudanças na empresa", sublinha.