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Uma ode ao design e à criação

Há muitas razões para visitar o Vitra Campus, em Weil am Rhein, na Alemanha, junto à fronteira com a França e a Suíça. Conheça a história de uma empresa familiar que se tornou uma referência única no design.

Não será exagero dizer que a história do design europeu teria sido muito diferente se, em 1953, Willi Fehlbaum não tivesse viajado da Suíça para Nova Iorque e descoberto as peças criadas pela dupla Charles & Ray Eames. Mas vamos por partes. Para quem anda mais desatento ao design de mobiliário contemporâneo, talvez não reconheça de imediato um nome incontornável do setor que é a Vitra. Ora, tudo começou em 1934, quando Willi abriu uma pequena empresa de expositores de lojas, chamada Graeter. Seis anos mais tarde, juntamente com a mulher, Erika, criou uma nova empresa de design: a Vitra. O negócio cresceu rapidamente e, em 1950, o casal instala a fábrica na Alemanha, em Weil am Rhein, na margem oriental do rio Reno, ali mesmo a roçar a fronteira com a Suíça e a França. Ciente de que as novas ideias são a melhor corrente sanguínea de um negócio, numa das suas viagens à Grande Maçã, Willi descobre as peças criadas pelos Eames numa loja. Este encontro mudaria para sempre o rumo da marca. Não no dia seguinte, mas quatro anos depois dessa descoberta fundacional, em 1957, ano em que Fehlbaum adquire à norte-americana Herman Miller os direitos para produzir as peças dos Eames para o mercado europeu.
Podia ter ficado por aqui, mas ocasal Fehlbaum quis conhecer pessoalmente Charles e Ray. E assim foi. Os quatro reuniram-se na famosa, e não menos mítica, Eames House, na Califórnia. A empatia foi imediata: partilhavam valores fundamentais como a atenção ao detalhe, a convicção de que os processos são fundamentais e, claro, que no topo dessa pirâmide tem de estar, sempre, a qualidade. E, não menos importante, o conceito de ‘autoria’. Nunca os Fehlbaum abdicaram disso mesmo – de trabalhar com designers que equilibram criatividade e uma visão própria do mundo. Daí que falar em Vitra seja falar em património e inovação, arrojo e carinho pelos “seus clássicos”, assinados por nomes como Isamu Noguchi, Alexander Girard e Jean Prouvé, Jasper Morrison ou Verner Panton, para não fastidiar com a extraordinária lista de designers do universo Vitra. Onde também figuram dois nomes portugueses: Daciano da Costa e António Garcia.
Hoje, esta empresa familiar, já na terceira geração, considera-se muito mais um projeto e menos um negócio. Ninguém nega que o sucesso económico é, e será, a pedra basilar da empresa. Sem esse prato da balança equilibrado, não haveria campus Vitra. Essa “vitrina encantada” onde grandes nomes da Arquitetura desenham edifícios – Álvaro Siza é um deles –, experiências sensoriais e jardins com vista para as colinas e vinhedos circundantes. A semântica aqui importa porque, nesta vitrina, temos diante de nós um século de arquitetura e uma convicção inabalável: o quotidiano tem um grande potencial de inspiração e prazer estético. Cabe ao design descobrir e aprofundar esse potencial. Soa a slogan? Arriscamos dizer que é o “mantra Vitra”. Que pode ver ao vivo e a cores.

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