Furtamos descaradamente uma frase que, um dia, Agostinho de Hipona nos deixou. “O mundo é um imenso livro do qual aqueles que nunca saem de casa lêem apenas uma página”. E o que nos diz este pensamento? Que viajar é, e sempre foi, um gesto fundador da condição humana. Porquê? Porque a humanidade construiu-se pelo movimento, motivado pelas mais diversas causas. Necessidade, prazer, sobrevivência, descoberta.
Se umas vezes as viagens nos ensinam sobre a alteridade, noutras ocasiões tiram-nos o tapete. Ou seja, confrontam-nos com os limites do nosso mundo e do mundo dos outros. Pois bem, é nesta esfera que o Porto/Post/Doc - Film & Media Festival se irá movimentar entre 20 e 29 de novembro, ecoando o tema “O Tempo de Uma Viagem”.
Será esta a âncora da programação deste ano, que prolonga o programa O Movimento dos Povos, iniciado em 2024 com A Europa Não Existe, Eu Estive Lá, e que será concluído em 2026 com O País dos Outros. Objetivo? Simples, como sublinha a organização. O Porto/Post/Doc pretende apenas “reafirmar o seu compromisso com um cinema que pensa o tempo em que vivemos, em articulação com o Fórum do Real e outras atividades de reflexão e diálogo dentro do Festival. Um cinema que revela, pensa e age sobre o presente.”
Partindo da ideia de que a mobilidade serve a alguns, mas é negada a muitos mais, o ciclo que arranca a 20 de novembro lança este repto: “olhar para a viagem não como exceção, mas como regra. Não como metáfora, mas como matéria concreta, questionando os discursos fáceis, os mapas fixos, os conceitos estanques de identidade e pertença.”
As respostas, essas, são fluidas, nunca definitivas nem categóricas. Aqui o que importa, verdadeiramente, é a escuta, a dúvida e o reconhecimento do outro.” São 135 filmes e uma mão bem cheia de secções, que exploram temas sociais, políticos e humanos em diferentes geografias. Da Palestina à Ucrânia, das migrações ao exílio, o festival propõe um programa que interroga o presente. Destaque para Lina Soualem, cineasta franco-argelino-palestiniana que aborda as cicatrizes coloniais e das diásporas. Para filmes como “Comboios” (Maciej Drygas), “O Viajante da Meia-Noite” (Hassan Fazil), “YOL - Licença Precária” (Şerif Gören / Yilmaz Güney) ou “Rua do Deserto, 143” (Hassen Ferhani). Etambém para a Competição Cinema Falado, que percorre realidades da lusofonia, de Maputo a Lisboa.
O que nos diz o tempo de uma viagem?
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De 20 a 29 de novembro, uma constelação de espaços na Invicta vão acolher a 12 ª edição do festival de cinema e media. Proposta? Viajar pela memória, identidade e futuro. E agir sobre o presente.