Na Virgínia, Abigail Spanberger, uma antiga dirigente da CIA, é a primeira mulher governadora do Estado. Para o cargo de vice-governador ganhou Ghazala Hashmi, também do Partido Democrata, que é a primeira mulher muçulmana a ser eleita para um gabinete estadual desta importância no Estado da Virgínia. Numa vitória para a ala progressista do Partido Democrata, Zohran Mamdani foi eleito presidente da câmara de Nova Iorque, derrotou o ex-governador Andrew Cuomo e o republicano Curtis Sliwa. Em Nova Jérsia, onde Trump apoiou o candidato republicano Jack Ciattarelli, os eleitores optaram por manter os democratas no poder e elegeram Mikie Sherill.
Mas, se tudo correu bem no dia das eleições, seguem-se agora ‘os dias seguintes’. Francisco Seixas da Costa, analista de assuntos internacionais, considera que “Trump prepara-se para boicotar Nova Iorque”. Por uma razão simples: a cidade é demasiado importante para que o presidente permita que uma alternativa democrata às suas próprias políticas venha a ter sucesso. Por outro lado, o ‘cerco’ que Trump tem feito a diversas cidades controladas por democratas – desde logo a improvável convocação de militares para assegurarem a segurança das suas populações invocando dificuldades locais que ninguém conseguiu provar – demonstra o poder de ‘intromissão’ federal sobre os Estados e as cidades.
Trump, que já disse que Zohran Mamdani é um comunista e jihadista, fará tudo, na ótica de Seixas da Costa, para impedir que o novo mayor da cidade coloque a sua agenda no ativo – e principalmente que essa agenda tenha sucesso. Para todos os efeitos, os críticos de Mamdani afirmam que os principais pontos dessa agenda são puro “populismo de esquerda” e não são sequer exequíveis. Mamdani defende o aumento de impostos para quem ganha mais de um milhão de dólares por ano e o combate ao alto custo de vida na cidade – eventualmente congelando as rendas no imobiliário; quer um sistema de autocarros gratuitos para toda a cidade; e a criação de cinco supermercados subsidiados pelo governo, um em cada distrito da cidade de Nova York. Os críticos dizem que as propostas iriam criar duas cidades que se tornariam incompatíveis entre si. E também lembram que Nova Iorque ainda não ganhou a independência: algumas das propostas estarão acima daquilo que um mayor pode decidir.
Consequências políticas
De qualquer modo, os democratas venceram as principais disputas que foram a eleição – e isso é algo que Trump não vai mudar. Os seus apoiantes afirmaram ao longo do dia que qualquer extrapolação do local para o federal enferma de erros de análise política que não se devem cometer. Seixas da Costa diz algo de semelhante: “as únicas eleições que dão indicação sobre a forma como o país olha para Trump são as intercalares, que terão lugar dentro de um ano, em novembro”.
Mesmo assim, Trump não terá ficado agradado com a ‘revoada’ democrata que se fez sentir. E daí a possibilidade de ‘tomar de ponta’ nos novos dirigentes democratas.
Mas as vitórias serviram também “para os democratas prestarem prova de vida”, disse ainda o embaixador Seixas da Costa. Baralhados com a derrota nas eleições presidenciais, os democratas demoram a encontrar um rumo que possa servir-lhe para se apresentarem ‘vivos’ às presidenciais de 2028. Não é tradicional que os partidos norte-americanos assegurem a figura do líder de oposição – Trump foi a exceção que confirma a regra – e por isso ainda não é possível, diz Seixas da Costa, imaginar, para já, Mamdani a concorrer às primárias democratas, quando elas tiverem lugar.
Seja como for, o quadro político norte-americano tornou-se de repente menos opaco e menos monocromático. Agora, os democratas têm um ano para tentarem retirar a maioria republicana de Trump na Câmara dos Representantes – sendo certo que a ‘sua’ maioria no Senado será mais difícil de remover.