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Trump consegue que a paz chegue finalmente a Gaza

O cessar-fogo, celebrado entre Israel e o Hamas, inclui a libertação de reféns, que deverá ocorrer no início da próxima semana. No entanto, subsistem preocupações sobre a efetiva implementação do acordo nas próximas fases e o cumprimento integral por parte de Israel.

O acordo entre Israel e o Hamas para troca de reféns e presos foi celebrado em Israel e em Gaza. Mas a experiência de colapso de anteriores acordos moderou o entusiasmo de muitos. Este entendimento mediado pelos Estados Unidos foi o passo que interrompeu a escalada bélica, ao menos por agora, mas deixou em suspenso várias questões essenciais. O novo acordo prevê que, dentro de 72 horas após a ratificação israelita, o Hamas liberte todos os reféns vivos e entregue os corpos dos que morreram. Em troca, Israel compromete-se a libertar 250 prisioneiros palestinos condenados à prisão perpétua e mais 1.700 detidos de Gaza, além de retirar tropas para linhas previamente estipuladas, de modo a tornar possíveis as trocas sem confrontos diretos.
O líder do Hamas, Khalil Al-Hayya, afirmou que recebeu garantias dos Estados Unidos, dos mediadores árabes e da Turquia, de que a guerra em Gaza acabou. “O acordo foi alcançado para pôr fim à guerra e à agressão contra o nosso povo e iniciar a implementação de um cessar-fogo permanente e a retirada das forças de ocupação”, disse Khalil Al Hayya, num discurso televisivo emitido ontem. Por outro lado, responsáveis israelitas já garantiram que o acordo entrará em efeito mal seja aprovado pelo governo liderado por Benjamin Netanyhau. A decisão é aguardada para as próximas horas.
Foi concebido um cronograma dividido em fases: a etapa inicial teria extensão de 42 dias, e a total reconciliação política e reconstrução de Gaza está projetada para um período entre três e cinco anos — mas a execução dependerá estritamente do cumprimento das etapas anteriores. Cabe a mediadores independentes verificar o cumprimento: as listas nominais de reféns e prisioneiros deverão ser entregues com antecedência, o recuo militar será acompanhado por observadores e não poderão ocorrer ataques durante o processo.
Está prevista a entrada de 600 camiões humanitários por dia — metade para o norte da Faixa de Gaza — e uma limitação temporária aos voos militares israelitas sobre Gaza, entre 10 a 12 horas diárias. Se alguma fase falhar, Israel poderá retomar operações segundo as cláusulas acordadas.
Mas o tratado, ainda que ambicioso, revela lacunas estruturais graves. Ficou por definir como se dará o desarmamento real do Hamas — em particular a neutralização dos túneis, depósitos e sistemas de foguetes. Também não está clarificado quem assumirá a governação futura de Gaza: a Autoridade Palestina (PA), um governo civil internacional ou uma administração híbrida entre entidades locais e externas.
A segurança de longo prazo é outro ponto indefinido: não se sabe se Israel manterá presença protetiva em zonas estratégicas, se a força internacional proposta assumirá controle total ou se haverá garantias mútuas para prevenir novos surtos de violência. O financiamento da reconstrução não foi quantificado em compromissos firmes por parte de países ou instituições. Por fim, os mecanismos de sanção em caso de incumprimento são vagos — além da retomada militar permitida, não há penalidades automáticas definidas.
A ONU já veio dizer que tem as equipas mobilizadas para entrar em Gaza. O diretor-executivo Gabinete de Serviços de Projetos da ONU, o português Jorge Moreira da Silva, diz que estão disponíveis 170 mil toneladas de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza. “Durante os primeiros 30 dias de cessar-fogo, podemos entregar 100 camiões de alimentos por dia. Podemos repor seis hospitais em condições de funcionamento. Podemos melhorar o acesso à água e ao saneamento básico em 20% a 80%”, afirma. A seguir, é preciso preparar a evacuação dos 50 milhões de toneladas de resíduos e escombros do enclave palestiniano.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, congratulou-se com um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, afirmando que a sua agência está pronta para intensificar a resposta às necessidades de saúde em Gaza. Numa mensagem publicada na rede social X afirmou que o acordo é “um passo importante em direção a uma paz duradoura”.
Também António Guterres, secretário-geral da ONU disponibilizou o apoio das Nações Unidas ao processo.“Todos esperámos demasiado por este momento. Agora precisamos de o fazer realmente valer a pena. Exorto todas as partes a cumprirem integralmente os termos do acordo - e a aproveitarem plenamente as oportunidades que este apresenta”, afirmou.

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