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Dados sensíveis de cidadãos da UE nas mãos dos EUA

A Kiteworks, empresa americana ligada à inteligência israelita, adquiriu uma plataforma usada por governos europeus.

O serviço de mensagens europeu Zivver, usado para comunicações confidenciais por governos e hospitais na UE e no Reino Unido, foi vendido à Kiteworks, uma empresa americana com fortes ligações aos serviços de inteligência de Israel. Diversas instituições (de hospitais a tribunais) usam o Zivver para enviar documentos confidenciais. Embora o Zivver afirme que esses documentos são criptografados, uma investigação da plataforma de jornalismo de investigação, Follow the Money, mostrou que os conteúdos podem ser lidos.
Quando a empresa americana de segurança de dados Kiteworks comprou sua concorrente holandesa Zivver em junho deste ano, o CEO Jonathan Yaron descreveu o momento como “um orgulho para todos nós”. Ele acrescentou no LinkedIn que a compra era “um marco significativo na missão contínua da Kiteworks de proteger dados sensíveis em todos os canais de comunicação”. O que Yaron não mencionou, porém, é que essa aquisição – ocorrida num momento politicamente delicado entre os EUA e a UE – colocou dados pessoais altamente sensíveis de cidadãos europeus e britânicos diretamente nas mãos dos americanos.
O Zivver é usado por instituições como hospitais, seguradoras de saúde, serviços governamentais e autoridades de imigração nos Países Baixos, Alemanha, Bélgica e Reino Unido. Yaron também não mencionou que grande parte da gestão da Kiteworks – incluindo ele próprio – é formada por ex-membros de uma unidade de elite das Forças de Defesa de Israel, especializada em interceptar e quebrar comunicações criptografadas.
Além disso, a investigação revelou que os dados processados pelo Zivver são menos seguros do que a empresa afirma. “Todos os sinais de alerta deveriam ter sido levantados durante essa aquisição”, disse o especialista em inteligência Hugo Vijver, ex-oficial do serviço de segurança holandês AIVD.
Além da jurisdição americana, a gestão da Kiteworks levanta outra onda de preocupações: as suas ligações com a inteligência israelita. Vários dos principais executivos da empresa, incluindo o CEO Jonathan Yaron, são veteranos da Unidade 8200, a equipa cibernética de elite das Forças de Defesa de Israel (IDF), conhecida por sua capacidade de quebrar códigos e temida pelas suas operações de vigilância. “Em Israel, há uma porta giratória entre o exército, o lóbi, os negócios e a política”, disse o especialista holandês Hugo Vijver.
A Unidade 8200 já foi ligada a grandes operações cibernéticas, como o ataque às instalações nucleares iranianas em 2007, e mais recentemente foi acusada de explodir milhares de pagers no Líbano, um incidente que, segundo a ONU, violou o direito internacional e matou ao menos duas crianças. A unidade emprega milhares de jovens recrutas identificados por suas habilidades digitais e é capaz de interceptar comunicações telefónicas e de internet globais. 

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