Qualquer dúvida que pudesse subsistir foi desfeita por AntónioCosta na entrevista intimista que concedeu na segunda-feira à CNN Portugal, permitindo apreciar a concentração de objetos de design nacional no gabinete que pretende continuar a ocupar na residência oficial do primeiro-ministro. O secretário-geral do PS, favorito à vitória nas legislativas de 30 de janeiro segundo todas as sondagens até hoje divulgadas, esclareceu que pretende uma maioria de “metade mais um” dos 230 deputados da Assembleia da República.
Mesmo sem utilizar a palavra “absoluta”, até hoje só alcançada por José Sócrates entre os socialistas, e ultimamente substituída por sinónimos mais discretos, como o “robusta” muito típico da novilíngua pandémica, Costa referiu-se ao número que tem sido o elefante no canto do hemiciclo: 116 é a fasquia que tanto ele como Rui Rio, a quem elevou a único outro “candidato a primeiro-ministro” precisam de transpor. Não por qualquer meio necessário, pois tanto ele como o reeleito líder social-democrata traçaram um emaranhado de alegadas linhas vermelhas que excluem várias soluções governativas, mas talvez com outros protagonistas à frente dos seus partidos.
Isso mesmo foi deixado claro pelo secretário-geral doPS na entrevista concedida no seu local de trabalho ao longo dos últimos seis anos. A partir do momento em que Costa enquadra uma eventual derrota socialista nas legislativas antecipadas como “um voto de desconfiança” dos portugueses no primeiro-ministro, abre a porta para alguém lhe suceder num cargo que não se restringe necessariamente à liderança da oposição.
Afinal, tal como ao longo dos anos tem “mitigado” a lembrança de que o PS não venceu as legislativas de 2015, beneficiando da incapacidade de obter maioria absoluta da coligação de centro-direita PortugalàFrente para ser primeiro-ministro em vez de Pedro Passos Coelho, não é impossível que o mesmo volte a suceder em 2022. Apesar de algumas sondagens indicarem que o Bloco de Esquerda, PCP e PEV poderão ter menos eleitos do que a soma do Chega, Iniciativa Liberal e CDS .
Mesmo que a eventualidade de regresso da “geringonça” seja admitida pelo atual primeiro-ministro, Costa concede que isso não será fácil com os protagonistas do chumbo do Orçamento doEstado. Até que ponto as manobras de reanimação seriam facilitadas pela chegada de Pedro NunoSantos à liderança do PS são outra incógnita, embora se depreenda que teriam mais provável sucesso do que a aprovação de orçamentos durante metade da legislatura a um governo minoritário do PSDde Rui Rio. Costa deixou claro que nem a situação inversa lhe agrada, tendo qualificado de “proposta de quem não tem experiência de ação governativa” a alegada disponibilidade do social-democrata para garantir a aprovação dos dois primeiros orçamentos de um executivo minoritário do PS.