A inflação foi o indicador económico em maior destaque no ano que agora termina, dada a magnitude da recuperação nas economias mais avançadas e as perturbações geradas ao nível das cadeias de fornecimento globais. Para 2022, a expectativa dos analistas é que o fenómeno venha a estabilizar na segunda metade do ano, uma visão que é agora partilhada pela generalidade dos bancos centrais, depois de vários meses a classificar a pressão nos preços como transitória. O efeito desta pressão pode desencadear atualizações salariais que garantam, pelo menos, a manutenção do poder de compra das populações.
Depois de uma primeira metade de 2021 ainda muito condicionada por medidas de contenção pandémicas, a reabertura da maioria das economias da zona euro, EUA e Reino Unido levou a picos de consumo, fruto do adiamento de várias compras, maioritariamente de bens de consumo. Esta situação conjugou-se com uma subida dos preços da energia, levando a aumentos de custos para as empresas produtoras que rapidamente foram passados para o consumidor final.
Apesar da expectativa da generalidade dos bancos centrais destas economias apontar para um fenómeno temporário, a realidade é que as perturbações ao nível das cadeias de logística e fornecimento mantiveram-se durante mais tempo do que o esperado, aumentando a pressão inflacionária em inúmeros sectores. Assim, o ano encerra com valores recorde de inflação nos EUA e Reino Unido, onde a leitura de novembro revelou uma variação homóloga de preços de 6,8% e 5,1%, respetivamente. Estes valores constituem máximos não registados desde 1982 nos EUA e 2011 no Reino Unido.
“Em 2022, a maior parte destes fatores serão ainda válidos, pelo que não é de prever uma descida da inflação para os níveis pré-pandémicos”, começa por projetar Filipe Garcia, presidente da Informação e Mercados Financeiros (IMF).
Um novo fator nesta equação é a recém-descoberta variante Ómicron, que começou já a perturbar a atividade económica global e a impactar as projeções para o próximo ano. Segundo Francesco Franco, economista e professor na Nova SBE, importa compreender a proteção que conferem as várias vacinas aprovadas, especialmente as usadas na China, contra esta nova estirpe, dada a possibilidade de novos confinamentos e subsequentes dificuldades nos portos de origem de grande parte das importações europeias e americanas.
“Um outro fator importante será a dinâmica dos preços da energia, que são a maior causa do aumento da inflação total na zona euro neste momento”, acrescenta Francesco Franco. Escusando-se a fazer previsões, Luís Aguiar-Conraria reconhece que “estão reunidas as condições para haver inflação” em 2022, especialmente dada a resposta orçamental à pandemia das economias mais desenvolvidas. O economista e professor na Universidade do Minho lembra, no entanto, as “políticas monetárias super expansionistas” que têm sido colocadas em práticas nos últimos anos pelos bancos centrais europeu, americano e britânico, entre outros, pelo que a subida de preços não surge como uma surpresa.
“Estão reunidas as condições para haver inflação em 2022”
Depois do ressurgimento, este ano, da inflação elevada nas principais economias desenvolvidas, os preços da energia e os constrangimentos logísticos manter-se-ão os principais motores deste fenómeno em 2022, alertam economistas.
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