A incerteza sobre a pandemia teima em não parar de assombrar as perspetivas sobre a recuperação da economia portuguesa (e mundial), mas ainda assim a expetativa é de que 2022 fique marcado pela retoma do Produto Interno Bruto (PIB) ao nível pré-pandémico. Depois da tão esperada recuperação em 2021, e após a hecatombe de 2020, o próximo ano deverá registar uma taxa de crescimento mais elevada, suportada pela bazuca europeia e ainda pela política monetária do Banco Central Europeu (BCE).
As principais instituições nacionais e internacionais esperam uma expansão do PIB entre 5,1% e 5,8% em 2022, com o Banco de Portugal (BdP) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) a serem as instituições mais otimistas (5,8%) e o Conselho das Finanças Públicas (CFP) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) a serem as instituições com a estimativa mais baixa (5,1%). Já a Comissão Europeia vê a economia portuguesa a crescer 5,3%, enquanto o Ministério das Finanças prevê uma expansão de 5,5%. Estes números comparam com o crescimento esperado para 2021, com uma taxa de intervalo entre 4,8% e 4,4%.
“A economia portuguesa foi impulsionada pela retoma económica global e em particular pela recuperação da zona euro. O ressurgimento da procura e a melhoria do emprego impulsionaram a economia nacional”, recorda Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, que salienta que o crescimento em 2022 deverá ser alicerçado pela implementação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Paralelamente, espera que os os setores do turismo, hoteleiro e restauração também apoiem o crescimento económico, apesar de serviços específicos relacionados com o turismo estrangeiro possam ainda permanecer abaixo dos níveis pré-pandemia. O economista antecipa que as dificuldades nas cadeias de abastecimento ainda poderão penalizar o setor industrial no início de 2022, mas acredita que também deverá gradualmente crescer ao longo do ano. “No setor externo, o balanço da conta corrente deverá melhorar ligeiramente, impulsionado pela recuperação das exportações de serviços”, acrescenta.
O ano deverá arrancar com a atividade condicionada pelas novas medidas de contenção da nova vaga da pandemia, mas a expetativa é que rapidamente recupere e o PIB atinja o nível pré-pandémico no segundo semestre de 2022.
A recuperação deverá traduzir-se num aumento do emprego e da taxa de desemprego. As previsões das instituições apontam para um intervalo da taxa de desemprego entre 6% (BdP) e 6,9% (CFP) e de emprego para 0,8% (Comissão Europeia e Ministério das Finanças) e 1,6% (BdP).
A impulsionar o crescimento deverá estar sobretudo a procura interna, refletindo quer o consumo, quer o investimento, refletindo a absorção dos fundos europeus. Entre os principais componentes do PIB, as perspetivas variam num intervalo entre 4,8% e 4,2% para o consumo privado; 2,9% e 1,4% para o consumo público; 8,1% e 5,2% para o investimento; 14,2% e 9,5% para as exportações; e 12% e 6,2% para as importações.
Porém, há riscos. Alguns com perspetivas de se dissiparem ao longo do ano, outros com maior grau de incerteza. “A reintrodução de medidas restritivas para conter a pandemia, incluindo sobre a mobilidade internacional, a par do aumento da incerteza, terá impacto sobre o ritmo de recuperação, em particular dos serviços relacionados com o turismo”, assinalou o BdP, no Boletim Económico de dezembro, acrescentando que também se assume “que as perturbações nas cadeias de fornecimento globais, que se têm refletido na escassez de matérias-primas e outros bens e num aumento dos seus custos, se dissipam a partir da segunda metade de 2022”. Contudo, de fora das previsões do BdP está o risco político das eleições marcadas para 30 de janeiro.
Por outro lado, a pandemia, e nomeadamente a nova variante ómicron, é apontada como uma das principais ameaças à recuperação. Paulo Rosa assinala o impacto para o turismo estrangeiro, “onde a incerteza permanece alta devido aos constrangimentos, sobretudo nos aeroportos”. Também a política monetária “gradualmente mais hawkish dos bancos centrais a nível global como resposta à evolução da inflação, nomeadamente do impacto dos preços da energia e dos avanços e recuos dos bottlenecks, poderá ser um dos principais desafios em 2022 e um obstáculo à cabal performance da economia portuguesa” é apontada pelo economista como um risco.