O poder na Sérvia, há mais de uma década nas mãos de Aleksandar Vucic – atual presidente e ex-primeiro-ministro – está a enfrentar o problema social interno mais grave da sua história recente (a partir de 2008, data em que ficou reduzida à sua atual expressão geográfica). O que começou por ser um protesto liderado por estudantes, evoluiu para um movimento cívico mais amplo, expondo duas visões fortemente contrastantes do futuro do país. “A pressão está a aumentar em todas as frentes.
A questão que irá moldar o próximo período é se o momento atual será aproveitado para procurar reformas e restaurar a confiança, ou se levará a um controlo estatal ainda mais rigoroso”, refere um extenso estudo da responsabilidade do International Institute for Middle East and Balkan Studies (IFIMES), a que o JE teve acesso.
Dificilmente se pode acusar Aleksandar Vucic de ser um democrata convicto – como a União Europeia – que tem em vista a sua integração no bloco – bem sabe, e o atual presidente já deu mostras de querer ultrapassar a crise sem ceder à oposição: não está disponível para antecipar eleições parlamentares, num quadro em que o seu partido não teria nada a ganhar.
Com os protestos a seguirem vivos desde o ano passado, eleições nesta altura seria colocar em causa a confortável posição do Partido Progressista Sérvio (SNS), que nas eleições antecipadas de novembro de 2023 (o calendário normal apontava para 2026), conseguiu 48% dos votos e 129 dos 250 lugares no parlamento, apoiados pelos 18 deputados do Partido Socialista. As próximas eleições regulares estão marcadas para o final de 2027.
A Sérvia, que continua a atravessar uma longa fase de transição, tem pouca margem para encontrar uma solução. Segundo o instituto, só o conseguirá se “as autoridades convidarem os estudantes para um diálogo aberto entre o governo e outros intervenientes-chave”; ”proceder a uma reforma institucional e do Estado de direito, incluindo a reforma da polícia, do sistema judicial e da administração pública, apoiada pela União Europeia”; “proteger as liberdades civis sem recurso a medidas repressivas contra manifestantes e jornalistas”; e renovar o SNS através de reformas internas e de afastamento” de algumas fações.
Segundo o IFIMES, “a realização de eleições parlamentares antecipadas, que dariam uma nova legitimidade ao governo (quer o atual, quer um novo), redefiniria o cenário político e permitiria uma renovação social geral”.
Sérvia: Vucic arrisca estabilidade se não marcar eleições antecipadas
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Há mais de meio ano que os protestos por causa da tragédia de Novi Sad enchem as ruas das principais cidades do país. As autoridades demoram em encontrar uma solução.