O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a pressionar esta quinta-feira a Reserva Federal (Fed) para que a instituição liderada por Jerome Powell – seu inimigo político desde o primeiro mandato – inicie um movimento de redução das taxas de juro. “Atrasado demais: grandes números acabaram de sair. REDUZA A TAXA!!!”, escreveu Trump nas redes sociais. Mas isso não acontecerá, até porque a leitura de Trump não coincide com a de Powell.
Esta quinta-feira, ficou a saber-se que o comércio interno dos Estados Unidos aumentou mais que o esperado. Muito provavelmente, Trump pensará que isso indica que os norte-americanos têm mais dinheiro no bolso. Para Powell, a leitura será diversa: com as tarifas já a exercerem pressão sobre as importações, o aumento do consumo dá-se não porque a população está a comprar mais produtos, mas porque já está a pagar mais por eles. Dito de outra forma: já há pressões inflacionistas nos EUA e, nesse contexto, Powell nunca irá baixar as taxas de referência.
Ou seja, a guerra cada vez mais aberta entre Trump e Powell vai continuar. O presidente disse recentemente que não irá despedir Powell – o que é verdade, pela simples razão que não pode. O chefe da Fed só pode ser despedido por uma ordem judicial, que só será possível se Powell for acusado de fraude ou de qualquer outro crime económico que nenhum analista está a ver qual será. Se Trump mesmo assim o despedir, Powell só tem de ir à justiça reclamar, mantendo-se no lugar até que haja uma decisão judicial. É, portanto, uma guerra perdida para Trump – mas o presidente tem demonstrado conseguir as coisas mais inesperadas.
Nesta semana em que o desentendimento entre ambos atingiu um novo pico – com a picaresca notícia de que o presidente terá exibido o rascunho de uma carta de demissão de Powell durante uma reunião com deputados republicanos – ficou mais uma vez evidente a capacidade de o assunto interferir com os mercados. Esse é também, segundo os analistas, um fator que deve retrair Trump de avançar sobre Powell. É que, sempre que sucede mais um episódio desta guerra, Wall Street abana e o mercado cambial entra em stress.
O mandato de Powell como presidente termina oficialmente em maio, mas poderá permanecer como membro do Conselho de Governadores até 2028, se assim o desejar.
Os mercados de ações e de títulos da dívida pública e o valor do dólar norte-americano vão desabar se Donald Trump demitir Jerome Powell, alertou esta quinta-feira a senadora Elizabeth Warren, a principal figura democrata no Comité Bancário do Senado, Warren já criticou as decisões de Powell no passado, mas disse que os ataques implacáveis do presidente ao líder do banco central correm o risco de minar a independência da Fed, que é fundamental para os mercados financeiros dos Estados Unidos e do mundo em geral.
Mercados agitam-se perante a guerra cada vez mais cerrada entre Trump e Powell
Entre insultos e exigências absurdas, sempre que Trump ataca o presidente da Fed, os mercados reagem em baixa e o stress aumenta.
