A garantia deixada por AntónioCosta de que deixará a liderança doPS se for derrotado nas legislativas de 30 de janeiro de 2022 está a ser interpretada por dirigentes da oposição como uma estratégia do primeiro-ministro para conter a perda de votos ao centro ao mesmo tempo que procura continuar a esvaziar o peso eleitoral dos antigos parceiros de ‘geringonça’.
Apesar de o secretário-geral doPS não ter sido confrontado na entrevista à RTP com o facto de já ter sido derrotado em 2015, quando a coligação de centro-direita Portugal à Frente, liderada pelo então primeiro-ministro Passos Coelho, foi a mais votada nas legislativas sem obter maioria absoluta - o que abriu caminho à solução governativa alcunhada de ‘geringonça’ - disse que “se perdesse as eleições é evidente que não ficaria à frente doPS”, pois isso “implicaria abrir um novo ciclo de governação”.
Mas Costa terminou a entrevista com o aviso de que “é muito importante que todos tenham consciência da gravidade da situação em que o país vive”, pelo que os eleitores “têm que ir votar para garantir uma solução estável e duradoura”.Algo que muitos interpretam como um aviso a indecisos no centro do espetro político das possíveis consequências da sua saída de cena.
Não por acaso, Costa acusou a coordenadora do Bloco de Esquerda de considerar necessário retirá-lo da liderança partidária, dizendo que “quem manda no PS ainda são os militantes doPS e não a Catarina Martins”. Esse momento mais tenso da entrevista, transmitida na noite de segunda-feira, levaria a antiga parceira de “geringonça” a escrever no Twitter horas mais tarde, na manhã de terça-feira, que “num momento infeliz” AntónioCosta lhe atribuiu declarações “que nunca fiz, nem farei, sobre o futuro da liderança do PS”.Eacrescentou que depois das próximas legislativas, é comAntónioCosta que espera”negociar soluções”.
Mas no centro-direita teme-se que agitar o ‘fantasma’ de uma governação socialista mais sensível às exigências de comunistas e bloquistas caso Pedro NunoSantos venha a suceder-lhe no Largo doRato e na Presidência doConselho de Ministros é uma estratégia passível de surtir efeito numa altura em que as primeiras sondagens reveladas após o chumbo do Orçamento doEstado para 2022 apontam para a elevada probabilidade de que algo mude para que tudo fique (mais ou menos) igual na Assembleia da República.
E apesar de ter garantido que “há quem olhe para portas e veja fechaduras e há quem veja maçanetas para abrir as portas”, AntónioCosta salientou que, além da “escolha fundamental” entre um governo do PSou do PSD, aquilo que pretende é que os portugueses lhe concedam as “condições necessárias” para governar de forma estável durante quatro anos, seja “com maioria absoluta ou obrigando o PCP e o Bloco de Esquerda a repensarem aquilo que fizeram”. Melhor dizendo, prosseguindo a erosão desses partidos (no caso dos comunistas numa coligação com o PEV), que nas legislativas de 2015 obtiveram no seu conjunto mais de metade do total de votos conseguidos pelo PS, mas nas últimas sondagens já se encontram abaixo de um terço do score socialista.