Os fundos imobiliários passam por um momento de rentabilidades “muito atrativas”, mas é preciso continuar a travar “uma batalha” pela literacia financeira, para que os clientes continuem a investir.
“Os fundos abertos e fechados têm questões muito diferentes do ponto de vista da liquidez. É preciso as pessoas perceberem exatamente essas contrapartidas, do fundo ser aberto ou fechado”, diz ao Jornal Económico (JE), Pedro Coelho, CEO da Square Asset Management.
O responsável da gestora de ativos exemplifica os riscos e benefícios de investimento neste tipo de fundos.
“Vamos supor que uma pessoa muito rica morreu e deixou dois herdeiros com 10 milhões de euros cada um. Um dos herdeiros constitui um fundo imobiliário e arrenda ou investe nesse fundo, que tem dez imóveis arrendados a dez inquilinos diferentes e outro compra obrigações dos mesmos dez inquilinos com a mesma distribuição. Se por azar, os dez inquilinos forem à falência, o que comprou as obrigações pode arriscar-se a não ver nada, enquanto o que comprou os imóveis, na pior das hipóteses, tem que ir ao mercado outra vez, arrendá-los. O risco é completamente diferente porque tem ativos reais subjacentes”, explica Pedro Coelho.
Com presença em Espanha, mercado que vale por ano entre 15 a 18 mil milhões de euros, o CEO assume que procura de um distribuidor de fundos no país, mas a tarefa tem sido extremamente difícil devido a um problema muito grande com os fundos abertos.
“Portugal tem uma tradição de fundos imobiliários abertos desde o final da década de 80, em Espanha só começaram pouco antes da crise financeira”, afirma, acrescentando que no caso espanhol, os fundos eram de acumulação, e como tal, alavancaram-se e ainda cometeram outro erro que foi comprar terrenos para desenvolvimento.
“Com a crise financeira, passaram a ter dificuldades excessivas. Toda a gente resgatou e ainda há muita gente traumatizada desse tempo. Temos vindo também a tentar educar os clientes e bancos espanhóis para ver se arranjamos uma redistribuição em Espanha”, sublinha.
Apesar destes contratempos, Pedro Coelho expressa o desejo de continuar a querer solidificar Espanha como um dos principais mercados e aumentar a exposição da gestora.
Numa análise ao atual momento dos fundos imobiliários, o CEO da Square, assume que Portugal continua a viver um momento com muita procura por parte dos operadores e na prática, é essa procura que faz com que o mercado seja atrativo para os investidores.
“Pode haver anos melhores ou piores, mas em termos históricos, os fundos imobiliários em geral têm rentabilidades acima da inflação e, têm ganhos reais. Este ano em concreto as taxas dos depósitos têm vindo a descer, portanto, os fundos estão a viver um bom momento”, diz.
Sobre as tendências para 2026, o CEO da Square sublinha que com as informações disponíveis que tem atualmente, a tendência será das taxas de juro se manterem baixas ou eventualmente passarem mais no crivo da questão da gestão da inflação por parte do Banco Central Europeu (BCE).
“Isso faz com que por parte, do lado do rendimento, a rentabilidade dos fundos vai continuar a ser boa, porque vivemos muitos anos com a inflação a zero e as rendas não atualizavam e agora, com a inflação à volta dos 2%, que é o mandato do BCE, as rendas atualizam 2%”, afirma.
Face a este cenário o CEO acredita que os fundos que tenham bons inquilinos, que consigam pagar esse aumento de renda de 2% vão ter um aumento do rendimento e potencialmente terão alguma valorização patrimonial também por via do aumento desse rendimento.
“Isso faz com que a diferença de rentabilidade entre a rentabilidade dos fundos, a inflação e os depósitos a prazo continue a ser muito atrativa para captar mais poupanças para os fundos imobiliários”, conclui.
Rendimento atrativo, mas “batalha” trava-se pela literacia
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O crescimento tem sido constante, refletido o andamento da economia e o momento particular, em que a escassez impera. Mas é preciso mais para garantir a consistência, a começar pela literacia.