Instrumentos do mercado monetário, derivados como futuros, opções ou swaps. Matérias-primas, do ouro ao petróleo, passando pelos cereais. ETF, claro. Crédito privado, infraestruturas cotadas e, cada vez mais, ativos digitais como criptomoedas. Tudo isto pode constar entre os ativos sob gestão de um fundo flexível, através de instrumentos financeiros regulados. São as alternativas à trilogia clássica de investimento — ações, obrigações e imobiliário — mas continuam a representar uma fatia residual do património gerido em Portugal.
Os números são claros. O universo dos organismos de investimento coletivo mobiliários (OIC Mobiliário) domiciliados em Portugal apresenta cerca de 1.476,4 milhões de euros sob gestão na categoria de fundos flexíveis, o que equivale a 6,22% do total. Segundo a Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP), o montante gerido neste segmento tem-se mantido praticamente estável nos últimos cinco anos, enquanto o total de ativos sob gestão dos OIC Mobiliário cresceu 36,5 % desde o final de 2022, atingindo 23.358,3 milhões de euros em julho deste ano.
A diferença entre o crescimento e a estagnação é reveladora: enquanto o mercado no seu conjunto recuperou terreno após o choque inflacionista e a subida de juros de 2022 e 2023, o segmento flexível não acompanhou o ritmo. Continua a ser mais promessa do que fenómeno.
No contexto internacional, o contraste é ainda mais evidente. A consultora PwC estima que os ativos sob gestão (assets under management, AUM) globais em classes alternativas possam atingir 21,1 biliões de dólares (19,9 biliões de euros) em 2025, o equivalente a 15% do total global de ativos geridos. Estes números refletem o avanço rápido de um segmento que, há duas décadas, era visto como nicho e que hoje é uma das principais fontes de diversificação de risco para investidores institucionais.
Nestas classes alternativas, incluem-se ativos reais (real assets), como infraestruturas, energia e imóveis não cotados; participações em empresas privadas (private equity), com horizontes de investimento longos; e dívida privada (private debt), que oferece rendibilidades acima das obrigações públicas em troca de menor liquidez. O apetite global por estas estratégias tem crescido à medida que as grandes gestoras procuram retornos descorrelacionados e ativos com valor intrínseco num ciclo de incerteza monetária.
Portugal, contudo, permanece no banco de suplentes desta tendência. A natureza dos fundos flexíveis nacionais permite exposição a várias classes de ativos, mas dentro de limites prudenciais e estruturas pensadas para liquidez diária. A legislação portuguesa continua centrada no investidor retalhista e nas normas dos OICVM, o que restringe o investimento direto em ativos ilíquidos ou complexos.
Ainda assim, o potencial é significativo. A estagnação atual pode ser o prelúdio de um novo ciclo, à medida que a regulação europeia — e em particular o Markets in Crypto-Assets (MiCA) — abre espaço a instrumentos com exposição indireta a ativos digitais, e que o investidor português se habitua à volatilidade controlada como parte de uma estratégia diversificada.
Num mercado em que os fundos mobiliários tradicionais cresceram mais de um terço em dois anos, os flexíveis parecem ter ficado à margem da recuperação. Mas o seu papel estratégico está longe de ser irrelevante. E sem oferta nacional, o foco dos investidores pode virar-se para os ETF disponíveis, diversificados e à distância de um clique.
Alternativas de investimento que continuam estagnadas
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A apetência pelo investimento em ativos diversificados não chegou a Portugal, pelo menos diretamente. Os volumes estão estagnados, enquanto o mercado cresceu 36%. Um sinal.