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Reedições Regressada às livrarias graças à Relógio d’Água

Colapso da Guimarães afastou a obra de Agustina Bessa-Luís dos leitores. Nova editora iniciou há dois anos um programa que vai agora manter, com a colaboração da família, incluindo inéditos.

Praticamente ausente durante vários anos das prateleiras das livrarias portuguesas, na sequência do colapso do grupo Babel, detido por Paulo Teixeira Pinto, que comprara a editora Guimarães, a obra de Agustina Bessa-Luís foi resgatada do esquecimento em 2017 pela Relógio d’Água, que deu início ao programa de reedição em curso que irá manter o mesmo ritmo após a morte da escritora.
Tendo a morte da escritora ocorrido num dos primeiros dias da Feira do Livro de Lisboa verificou-se um efeito imediato nas vendas, considerado “uma consequência natural da morte de um autor” por Francisco Vale, editor da Relógio d’Água. Em declarações ao Jornal Económico, realçou que Agustina “tem conseguido encontrar novos leitores”, atraídos pelas reedições que incluem prefácios de escritores como António Lobo Antunes (“Vale Abraão”), Gonçalo M.Tavares (“A Sibila”), Mega Ferreira (“A Ronda da Noite”), Hélia Correia (“Fanny Owen”) ou Pedro Mexia (“Os Meninos de Ouro”).
A mediatização de uma escritora que, devido aos problemas de saúde, desaparecera da vida pública há mais de uma década poderá contribuir para aumentar a procura dos livros disponíveis no mercado. É a expectativa de Francisco Vale, ainda que o responsável da Relógio d’Água não avance qualquer meta. “A minha sensação, enquanto editor, é que o núcleo central de 20 a 30 livros de entre uma obra tão rica serão reeditados regularmente”. disse ao Jornal Económico.
Além da reedição de livros que encantaram gerações de leitores, o próximo dos quais será o romance “O Sermão do Fogo”, que chegou pela primeira vez às livrarias em 1962, a Relógio d’Água prevê a edição de inéditos, algo que já aconteceu, nomeadamente com “Deuses de Barro”, romance escrito aos 19 anos, ainda antes de Agustina ser Bessa-Luís, e voltará a suceder nos próximos tempos, com a edição de uma antologia de contos inéditos (alguns dos quais nem sequer publicados em revistas) ou da correspondência que trocou com o escritor inglês John Wilcock
Com o levantamento de tudo quanto a autora de “A Sibila” deixou a cargo da sua filha, Mónica Baldaque, e das netas, Francisco Vale considera “provável que descubram obras de interesse”, ainda que a possibilidade de virem a aparecer romances deixados esquecidos no fundo de uma qualquer gaveta ultrapasse as suas expectativas. Continuar a dar a conhecer a “obra estranha e imensa” será a missão de um editor que reconhece o quanto Paulo Teixeira Pinto apreciava a obra de Agustina, mas assumiu a missão de fazer reaparecer nas livrarias volumes que espera causarem um profundo efeito nos “recém-chegados”. “Não se sai incólume da leitura de um livro dela”, assegura, acerca de “universos de sonho e de pesadelo” nos quais, “sob uma capa civilizada, se encontram pulsões bastante cruéis”.
Um sinal de que a procura pelos livros da autora aumentou nos últimos dias foi a indisponibilidade temporária de “A Sibila” nas lojas e no site da Fnac, estando várias outras obras dependentes de encomenda ao editor. Ainda assim, segundo números a que o Jornal Económico teve acesso, até agora só a reedição de “A Sibila”, lançada a meio de 2017, tinha ultrapassado a fasquia dos dois mil exemplares, bastante à frente do livro infanto-juvenil “Dentes de Rato” e do romance “Deuses de Barro”. No extremo oposto, com pouco mais de uma centena de exemplares vendidos, encontrava-se “Três Mulheres com Máscara de Ferro”, peça teatral em que a autora juntou as protagonistas de “A Sibila”, “Fanny Owen” e “Vale Abraão”.
Também ainda disponíveis em algumas livrarias estão obras que a escritora fez no início do século XX para a editora Guerra e Paz, nomeadamente a autobiografia incompleta “O Livro de Agustina”, ou “As Meninas”, em que o seu texto era acompanhado por ilustrações de Paula Rego. 

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