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Portugal é "ótimo destino" para investimento dos adeptos em clubes de futebol, destaca cofundador da f2o

O cofundador da f2o Sports Corporation, o projeto que torna fãs de futebol em donos dos seus clubes preferidos, explica em entrevista ao JE como este modelo propõe acabar com o monopólio da gestão desportiva. "Vamos ter a nossa equipa na Europa", realça Michael Wright que não exclui a possibilidade de comprar em Portugal. 

Os clubes nacionais estão na mira dos investimento através de uma plataforma que se propõe a colocar os fãs como donos do jogo. A ideia é arrojada e pretende mudar o modelo (designado de antiquado pelos responsáveis) relativamente à propriedade dos desportos profissionais. Está a ser desenvolvida pela f2o Sports Corporation, uma plataforma criada em Silicon Valley, na Califórnia (EUA) e partiu de um grupo de estudantes da Universidade de Stanford. Assim, a f2o Sports (regulada pela SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) lançou uma campanha de crowdfunding em que se propõe a descentralizar, digitalizar e globaliza o modelo de propriedade desportiva e desafiar os fãs e investidores a participar na campanha, tornar-se donos dos seus clubes preferidos e participar ativamente na sua gestão.

Explica a f2o que, nesta ronda de crowdfunding, todas as transações serão reguladas online sob a Regulation Crowdfunding, através de um intermediário da SEC. Na plataforma f2o, todos os participantes poderão aceder a atualizações do processo, informações sobre o clube e gerir a sua participação que passa por assumir tomadas de decisão relativamente a renovações das equipas desportivas e técnicas, gestão de jogadores, manutenções, entre outras.

Em entrevista ao JE, Michael Wright, um dos promotores deste projeto, explica que a f2o Sports está num avançado processo de discussão com clubes profissionais de futebol e que será em Espanha que poderão ser dados os primeiros passos neste modelo organizacional. No entanto, Portugal está também na mira destes novos investidores.

Como é que um grupo de estudantes da Universidade de Stanford se lembrou de colocar o adepto no centro das decisões no contexto das organizações desportivas? 

A maioria dos fundadores conheceu-se na Universidade de Stanford em 2022 e sentimos que podíamos mudar as coisas. Todos gostamos de desporto e somos praticantes em tempo livre e somos líderes empresariais em áreas muito díspares como tecnologia, banca e outras. Eu vendi a empresa que fundei a uma outra empresa avaliada em 22 mil milhões de dólares, por exemplo. Chegámos à conclusão que adoramos desporto mas começamos a perguntar-nos se haveria algo mais para conquistar para além do sentimento de orgulho pela nossa equipa e concluímos que havia muito mais por explorar e em várias modalidades, do basquetebol ao futebol passando pelo cricket e outras. Concluímos que esta indústria em particular tem insistido nos mesmos moldes empresariais durante décadas. Os grandes emblemas do mundo do desporto são ativos de luxo e que só podem ser detidos por uma pequena percentagem de empresários que conseguem agregar milhões e milhões de dólares para comprar estas equipas.

E o que tem o adepto a acrescentar às decisões nas organizações desportivas?

Como adeptos, o nosso papel parece relegado a ser passivo mas a verdade é que os proprietários das equipas precisam dos adeptos para sobreviver. No final da equação, as nossas equipas são compradas e vendidas sem que o adepto tenha qualquer tipo de palavra a dizer. Temos este triângulo: os milionários no topo, os fundos de investimento e a grande base de adeptos que suporta tudo isto. Portanto, por um lado os adeptos suportam este processo mas estão fora do mesmo. Queremos pegar nessa pirâmide e inverter. Queremos criar um modelo que tenha o adepto no centro da equação e que este possa tomar decisões e ser ouvido. E que tenha conhecimento do que se está a passar com a equipa. Eu era um jogador profissional de futebol e já tive a experiência de perceber que os adeptos não fazem ideia do que se passa no seu clube. E há tantas coisas que o adepto deve ter noção. A nossa proposta é aproximar o adepto dessas decisões e que possa ser consultado regularmente sobre decisões que possam ser importantes como a venda de um clube por exemplo.

Com os EUA fechados, a Europa é o caminho?

Queremos que este modelo resulte e que o clube tenha resultados desportivos com protagonistas que queiram estar disponíveis para atuar neste modelo competitivo. Temos um plano extremamente ambicioso de poder conquistar troféus com um modelo empresarial centrado no adepto e um modelo desportivo focado nos jogadores. Sabemos que isso nunca será possível na MLS porque é uma competição fechada enquanto na Europa, sabemos que os clubes podem ser adquiridos numa fase em que estão a competir numa divisão inferior e pode-se progredir com subidas de divisão, congregando todo um potencial de adeptos e patrocinadores. Pela primeira vez, os adeptos podem fazer parte desse processo e relegar os fundos de investimento ou fundos soberanos estatais. É exigente e desafiador mas podemos estar perto de conseguir fazê-lo. A Europa tem o sistema perfeito para se conseguir implementar este modelo. E pode-se atingir isso com resultados desportivos e o adepto no centro da equação. O modelo que propomos pretende atingir sucesso financeiro. Em Espanha por exemplo temos equipas com uma base muito local em divisões inferiores e são clubes que podem estar a perder entre dois a três milhões de euros por ano. O que propomos é adquirir um clube desse nível e partir de um negócio local para negócio global, com uma grande alavancagem no que diz respeito a conteúdos digitais, desafiar outros adeptos a fazer parte desse processo. E muito desse percurso será efetuado através dos jogadores. Estes querem jogar bom futebol, querem ser bem recompensados pelo emblema que representam porque o clube vai passar a ter exposição global.

Portugal está na mira da f2o?

Portugal é um ótimo destino para este tipo de investimentos. Em termos de países-alvo, Portugal está sem dúvida nessa lista mas neste momento não gostaria de estar a avançar com nenhum alvo em concreto mas Portugal tem estado presente em muitas conversas e reuniões que temos tido. Vamos ter a nossa equipa na Europa, vai acontecer.

O carácter emocional do adepto poderá ser desaconselhável a que se coloque no processo de decisão que deve ser sempre racional?

Neste processo, teremos sempre que ter, naturalmente, uma entidade que administra o clube e que não seja controlada pelos adeptos. Naturalmente, é necessário que existam sempre profissionais especializados para tomar decisões em determinadas áreas. E isso nunca seria possível com uma base gerida apenas por adeptos, a governança estará sempre garantida por uma equipa qualificada. Mas vamos querer sempre ouvir o adeptos sobre determinadas decisões. Se existe a possibilidade de decidir a construção de um estádio, queremos perceber a sensibilidade dos adeptos; outra possibilidade: podemos desafiar os adeptos a escolherem a melhor equipa para atuar de início. O Real Madrid nunca vai ter isto, uma equipa da NFL também não e essa é uma decisão que pode acontecer num modelo como aquele que referi. Teremos grandes jogadores a querer atuar em clubes que tenham este modelo. O Messi não foi jogar para o petrodólar, por exemplo. Creio que o mesmo pode acontecer com outros jogadores.