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Portugal Bugs prepara-se para investir 650 mil euros e impulsiona mercado de proteína de inseto

Em entrevista ao Jornal Económico a propósito do Dia Mundial do Inseto Comestível, Sara Martins, cofundadora da microempresa sediada em Esposende, explica que o capital vai ser utilizado para apostar numa estratégia de comercialização para novos mercados e, ainda, reforçar a equipa - cujos únicos trabalhadores são os dois sócios fundadores da empresa.

A Portugal Bugs está a tentar assegurar um investimento de 650 mil euros até ao final deste ano, deixando clara a confiança na evolução do mercado de proteína de inseto.

Em entrevista ao Jornal Económico, a propósito do Dia Mundial do Inseto Comestível, Sara Martins, cofundadora da microempresa sediada em Esposende, explica que o capital vai ser mobilizado para a estratégia de comercialização da marca em novos mercados e, ainda, para o reforço da equipa, cujos únicos trabalhadores são os dois sócios fundadores.

"Apesar de já estarmos em Espanha, queremos consolidar [a atividade] no mercado português e espanhol", justificou, apontando a mira, também, aos mercados francês, holandês e belga.    

Atualmente, a startup pioneira em Portugal no desenvolvimento, fabrico e comercialização de produtos à base de insetos está representada nas superfícies da Sonae, Auchan, Apolónia Supermercados, Intermarché, e, no estrangeiro, da cadeia de supermercados espanhola Alcampo, que integra o Grupo Auchan.

Em termos de volume de vendas, a empresa nacional prevê dar um salto significativo, estimando faturar 90 mil euros até ao final do ano depois de, em 2022, ter tido uma faturação de 55 mil euros.

Questionada sobre o potencial do mercado de produtos feitos à base de inseto, a empresária entende que a margem de "crescimento é muito grande". 

"Somos uma empresa muito recente, apenas com dois anos. Fomos a primeira empresa - e neste momento única - com produtos no mercado com inseto. Para já, ainda fornecemos produtos apenas para um nicho de pessoas, muito por na nossa cultura ocidental não ser tão normal o consumo de insetos. Tendo em conta que já houve a aprovação do mercado e que estes dois anos correram bem, o crescimento pode ser maior. É um mercado com potencial e que está a ser promovido pela Comissão Europeia e pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura)". 

Sara Martins rejeita qualquer ceticismo em relação à marca quando dada a conhecer às retalhistas nacionais. "Nas grandes retalhistas, apesar do grande trabalho até chegar às pessoas certas, não foi muito difícil", explicou, acrescentando que "cada vez mais as empresas primam por ter produtos inovadores e apoiam projetos que primam pela sustentabilidade". "Tanto na Sonae como na Auchan tivemos a porta aberta", exemplificou.

Os produtos da Portugal Bugs mantêm-se, assim, nas prateleiras de várias superfícies comercias, dada a "repetição de compra por parte dos consumidores e a continuidade da procura", como os números que chegaram à empresa portuguesa por um dos grupos de retalho comprovam. 

A Portugal Bugs irrompeu no sector alimentar português em 2021, ano em que surgiu a legislação para a permissão do consumo humano. Há dois anos, no final de junho, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) autorizou, ao abrigo do "Regulamento Europeu para Novos Alimentos", a comercialização de sete espécies de inseto: dois tipos de grilos, dois tipos de larvas, dois de gafanhotos e um besouro. Atualmente, a Portugal Bugs dedica-se apenas à produção de duas espécies - um tipo de grilo e um de larva. 

A desconfiança em torno da introdução de insetos na alimentação não é surpreendente na sociedade Ocidental, apesar de ser comum noutras partes do mundo. Segundo Sara Martins, ainda há um caminho a percorrer para a normalização da entomofagia.

"Ainda estamos no início, mas o caminho está a ser feito. Cada vez as pessoas mais as pessoas já não olham para o inseto como algo que não se pode comer; já sabem que se pode comer, já leram uma notícia, ouviram na televisão ou ouviram falar de nós. Os insetos têm muita proteína e são sustentáveis. Acho que é uma questão de tempo. Cada vez mais as pessoas vão interiorizando a importância de inserir os insetos na sua alimentação e acho que vai haver um crescimento anual neste sentido", explicou.   

A entrada de novos players neste nicho de mercado não é, para já, uma "preocupação" para o negócio esposendense: "Achamos que eventualmente poderão surgir possíveis concorrentes; no entanto, o consumidor ainda tem de ser muito educado. Cada vez mais o número de consumidores adeptos dessa nova proteína vai aumentar. Não acreditamos que os concorrentes surjam já". 

"Sabemos de outras empresas que se lançaram demasiado cedo no mercado e que acabaram por fechar porque as pessoas não estavam preparadas. Neste momento, as empresas que existem estão a conseguir manter e esperamos que continuem a crescer", explicou, mencionando as congéneres Jimini's, de França, e a Exo, com atividade nos Estados Unidos. 

Quanto aos planos para o ano que se avizinha, o "aumento da equipa para expandir os negócios" e o "desenvolvimento de novos produtos" surgem entre as prioridades. "Queremos lançar uma nova categoria de barras com alto teor de proteína e um novo hambúrguer", anunciou.   

Sobre os preços praticados pela marca, Sara Martins explica que os artigos da Portugal Bugs podem ser divididos em duas categorias: farinhas, ou insetos desidratados, e os restantes produtos. Sobre a primeira, "não há comparação porque não existem a não ser a nível europeu. O quilo do inseto é caro".

Por outro lado, no que diz respeito às "barras, massa e crackers", a Portugal Bugs tentou "atingir um preço competitivo relativamente a essa categoria para o consumidor ter a oportunidade de consumir essa proteína sabendo que é muito rico a nível nutricional, sustentável". 

Segundo Sara Martins, este tipo de proteína já é recomendado por nutricionistas. "Alguns nutricionistas também aprovam o consumo desta proteína", afirmou, apontando para a recomendação da introdução de inseto na alimentação em "vários estudos científicos de análise do nível nutricional" deste alimento. "Larvas e grilos têm em média 60 gramas em cada 100 gramas proteínas, além de ser compostas por ácidos gordos e serem rica em alguns minerais, como o ferro". f

Nascidos, criados e processados naquela fábrica de indústria alimentar de Esposende pelas mãos dos dois fundadores, os insetos da Portugal Bugs são oferecidos em crackers, massa, chocolates, barras proteicas, snacks, granola, constando ainda do lote de produtos os insetos desidratados.

A celebração do Dia Mundial do Inseto Comestível ('World Edible Insect Day') teve início em 2014.