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Ouro continua a bater recordes e a culpa é de Trump

A versão Trump 2.0 está a provocar uma corrida ao ouro, com o aumento da tensão comercial global e da geopolítica.

A culpa é do Trump. Já se tornou numa frase feita, mas as consequências das ações do líder da maior potência mundial na economia global são incontáveis.

Desde que chegou ao poder no início deste ano, o ouro tem vindo a bater recordes, com os investidores a procurarem cada vez mais pelo ativo refúgio.

"Foram realmente as eleições americanas que colocaram sob pressão o ouro. A subida deve-se ao que Donald Trump fez na geopolítica e no comércio internacional", disse o analista Adrian Ash da BullionVault, citado pela "BBC".

Mais uma preocupação: o facto de a independência do banco central dos EUA estar debaixo de fogo com o presidente americano, perante os ataques a Jerome Powell e agora à governadora Lisa Cook, com o objetivo de cortes nas taxas de juro.

Christine Lagarde deixou um sério aviso esta semana: "é um perigo muito sério" a interferência de Trump na Reserva Federal americana, alertou a líder do Banco Central Europeu.

O ouro atingiu um novo recorde na terça-feira: mais de 3.500 dólares a onça, ultrapassando o máximo anterior atingido em abril. O metal precioso já subiu mais de 30% este ano.

A procura por ouro está a ser alimentada também pelas expetativas de que o banco central dos EUA vai descer as taxas de juros este mês, depois de Jerome Powell ter sugerido um corte, segundo a “Bloomberg”.

Esta sexta-feira será publicado um relatório sobre a criação de empregos nos EUA que poderá dar novas pistas à Fed sobre o mercado laboral.

“Os investidores estão a comprar posições no ouro, especialmente com um corte da Fed na calha, o que está a provocar uma subida dos preços. O nosso cenário base é que o ouro vai continuar a atingir novos máximos nos próximos trimestres. Um ambiente com taxas de juro baixas, dados económicos mais suaves e a continuação da incerteza económica e riscos geopolíticos aumentam a atratividade do ouro como diversificador de portefólio”, segundo Joni Teves da UBS.

Tanto o ouro como a prata mais do que dobraram o seu valor nos últimos 3 anos, com o aumento do risco na geopolítica, economia e comércio global, que provocaram um aumento da procura por ativos refúgio.

Entre os últimos riscos, encontra-se, precisamente, o ataque de Donald Trump à Fed, que coloca em causa a independência do banco e dos mercados nos EUA, assim como a imposição de tarifas aduaneiras aos parceiros comerciais.

“A perspectiva de um dólar em baixa, sustentada pelas expectativas de um corte de taxas pela Fed e por algum afastamento dos investidores relativamente a ativos norte-americanos, deverá continuar a influenciar o sentimento dos mercados até ao final do ano, beneficiando o ouro devido à correlação inversa entre os dois ativos”, disse em comunicado Ricardo Evangelista da ActivTrades.

“Ao mesmo tempo, a possibilidade de paz entre a Rússia e a Ucrânia está a desvanecer-se, enquanto em Gaza não se vislumbra o fim dos combates. Esta turbulência geopolítica tende a aumentar a procura por ativos de refúgio, apoiando o metal precioso — uma dinâmica acentuada pelos receios de que a interferência política possa comprometer a independência da Reserva Federal, bem como pela incerteza em torno das tarifas comerciais”, acrescentou.

Para o economista-chefe do UBS, o "rali do ouro assenta na acumulação por parte dos bancos centrais. Os bancos centrais que detêm ouro continuam a ter um ativo de reserva em dólares (apenas um que é independente do controlo do Tesouro dos EUA). Essa base foi reforçada pelas expectativas de cortes das taxas de juro nos EUA", segundo Paul Donovan.