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Os santos Sopranos

Os chefes das máfias de Newark, Nova Jersey, serão santos e pecadores ao mesmo tempo? Talvez sejam.

Os chefes das máfias de Newark, Nova Jersey, serão santos e pecadores ao mesmo tempo? Talvez sejam. Mas esse parece ser o mote para “Os Santos Mafiosos de Newark”, co-escrito por David Chase (autor de “Os Sopranos”), 14 anos após o fim da série “Os Sopranos”. Chase resolveu mostrar as origens de Tony Soprano, que irrompeu como chefe do poderoso grupo de “gangsters” e foi interpretado de forma genial por James Gandolfini. Estávamos em 1999 quando Chase, talvez influenciado pelo universo criado por Mario Puzo (curiosamente falecido nesse ano), decidiu recuperar o sempre fascinante universo das máfias de origem italiana. Puzo escrevera sobre a vida de Don Vito Corleone, que Francis Ford Coppola imortalizou em “O Padrinho”. Chase criou um Tony Soprano que poderia ser o nosso vizinho, que por acaso tinha uma série de negócios ilegais e matava pessoas. Porque ele tinha os problemas de todas as pessoas: tinha uma crise de meia-idade, o seu casamento não corria bem, os filhos estavam a crescer. E tinha pesadelos.

Tudo, claro, tem a ver com os mafiosos e a sua actividade, mas Chase tenta também explicar como é a vida, a morte, a lealdade e tudo o que une estes pólos. Para Tony Soprano era simples: “Família: são os únicos de que podes depender”. No fundo ele é como um americano de classe média: quer uma vida melhor para os filhos. Mas sabe que a lealdade familiar tem limites. A psicanálise da doutora Melfi poderia ajudar, mas a terapia aqui é utilizada não para explicar o comportamento de Tony, mas para nos confundir: muitas vezes dançamos à volta de um problema em vez de o enfrentarmos. A morte está sempre presente (“A vida é apenas morte” diz o tio Junior, quase no fim da série, preso em casa, podendo apenas sair para ir a funerais). O excessivo consumo é um símbolo de fraqueza moral (o dinheiro de sangue de Tony compra a Carmela coisas de marca para tentar pacificá-la).

Agora Chase regressa às origens e a outro tempo: a série navegava no desconforto americano americano do tempo de George Bush e da guerra do Iraque; o filme vai até ao final da década de 60, um período caracterizado pelos conflitos raciais e por uma revolução social profunda. Uns gostarão. Outros irão rever a série. E compará-la com “O Padrinho” de Coppola. Onde os santos também estavam perdidos no inferno de outras fés.

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