Num momento de tensão alargada no Médio Oriente, como é que vai reagir o mercado petrolífero? Da ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza, aos rebeldes houthis do Iémen, a um Irão mais interventivo, esta região volta a deixar o mundo ocidental preocupado.
Olhando para a atual tensão no Médio Oriente, Agostinho Pereira de Miranda destaca o acordo assinado recentemente entre o Irão e a Rússia que “diz tudo sobre os riscos para o sistema petrolífero internacional”.
Este é um acordo a 20 anos e “cujo objetivo está centrado na cooperação militar e na área de energia”. Os dois países são dois dos três maiores produtores da OPEP+.
O especialista em energia destaca também o comunicado publicado pela OPEP no início do ano, em que mantém o corte de produção de 2,2 milhões de barris diários até 31 de março de 2024.
“Estão à espera de aumentos, de uma subida dos preços para lá dos 80 dólares... mas a OPEP também não tem interesse que o preço suba para lá dos 90 dólares, pois começa a verificar-se a destruição da procura e não querem nada dar gás às renováveis. Mas 80 dólares é um mínimo para permitir algum conforto dos orçamentos dos estados mais poderosos”, segundo Pereira de Miranda.
Por sua vez, Rui Mayer aponta que a situação no mercado petrolífero poderá agravar-se se a tensão no Mar Vermelho alastrar-se ao Golfo Pérsico, e se se registarem “dificuldades no escoamento de petróleo de uma região que é uma grande produtora: a Península Arábica e o Irão”.
Analisando as movimentações mais recentes da OPEP destaca que esta tem tido a “preocupação em manter uma certa estabilidade de rendimentos dos seus membros e tem feito tudo o que pode nesse sentido”.
Recorda que quando o petróleo esteve mais elevado, nos 90 dólares, permitiu a entrada no mercado de outros países produtores e tornou o fracking nos EUAatrativo. Mas assim que a Arábia Saudita viu que estava a perder quota de mercado, “abriu torneiras para neutralizar outros produtores”, pressionando os preços. “Reduziu a esperança de vida das suas reservas em décadas”, mas atingiu o objetivo de colocar outros fora de jogo. Para este ano, a OPEP deverá manter a sua missão: “proteção das receitas económicas, do petróleo, dos seus membros”.
Desde a invasão russa da Ucrânia, e das sanções impostas pela União Europeia, que a Rússia tem vendido petróleo a vários países com desconto. África e Ásia são agora os destinos principais do crude russo, substituindo a Europa que pesava 60% nas exportações russas.
Obarril de crude russo Urals tem sido vendido com um desconto de 20 dólares face ao barril de Brent, uma diferença face ao desconto de dois dólares registados antes da invasão da Ucrânia, segundo dados da LSEG divulgados pela “Reuters”.
Avenda de crude russo via marítima atingiu um máximo em 2023.
Cerca de 50% das vendas russas em 2023 tiveram como destino a Índia e à China, um valor que contrasta com os 15% registados em 2021.
Em África, países como o Gana, Líbia, Tunísia, Togo, Marrocos, Senegal e até a Nigéria (que produz petróleo) registaram fortes aumentos de compra de crude à Rùssia.
Desde 2010 que a Ásia e África são responsáveis por quase 80% do crescimento da procura de petróleo.