O Governo projeta para o próximo ano um crescimento de 1,5% e inflação de 2,9%, ou seja, ambos os indicadores abrandam em relação a 2023. Do lado dos preços, a pressão tem vindo a dissipar-se com o índice de preços no consumidor (IPC) a desacelerar claramente já nos últimos meses, enquanto do lado do crescimento o abrandamento é motivado sobretudo pela mais fraca procura externa.
Para este ano, o documento orçamental prevê um avanço de 2,2% e inflação de 4,6%, isto medido pelo IPC (a medida de referência para as instituições europeias, o IPC harmonizado, deve variar 5,3% este ano e 3,3% no próximo).
O consumo privado cresce 1,1% no próximo ano, em linha com a estimativa atualizada para este ano, mas menos do que previsto no Programa de Estabilidade (PdE), 1,3%. Esta dinâmica explica-se sobretudo pelo crescimento do emprego e pela subida salarial, acrescenta o documento.
Por outro lado, o investimento também deve acelerar, embora menos do que o esperado. A expectativa agora passa por um crescimento de 4,1%, menos do que os 5,3% previstos no PdE, uma componente na qual os fundos europeus terão um impacto considerável. Na mesma linha, o consumo público avança 2,3%, ou seja, quase o dobro dos 1,2% antecipados no PdE.
O ministro das Finanças, Fernando Medina, sublinhou precisamente o impacto desta componente no crescimento, lembrando que a execução dos fundos europeus “não é linear nem horizontal”, respondendo às frequentes e diversas críticas sobre alegados atrasos.
Este ano, o consumo manter-se-á como o principal motor da economia, embora o Governo projete também uma melhoria significativa do investimento. Assim, a procura interna contribuirá com 1,1 pontos percentuais (p.p.) e a procura externa líquida com 1,2 p.p.: do lado interno, espera-se “crescimento semelhante do consumo privado e do investimento (1,1% e 1,3%, respetivamente)”; olhando para o exterior, e apesar da “desaceleração nos mercados externos que tem vindo a acentuar-se ao longo do ano, as exportações de bens e serviços deverão crescer 4,3%, acima das importações”, que crescerão 1,8%.
Petróleo abranda e juros pressionam
Do lado da conjuntura externa, o Governo admite o abrandamento da economia global, apesar de a situação na zona euro, onde se situam os principais parceiros económicos nacionais, se estar a revelar menos negativa do que se chegou a temer. O documento orçamental aponta para um crescimento global de 2,7%, usando para tal a previsão da OCDE, e de 1% para a zona euro.
Fernando Medina recordou os muitos “desafios e interrogações” que a componente externa representa, dado a expectativa de juros elevados durante mais tempo, a incerteza “quanto a alguns componentes da inflação, nomeadamente os combustíveis” e a “profunda instabilidade em várias partes do globo”.
Apesar da subida recente da cotação do barril de petróleo após o prolongamento de cortes saudita e russo, à qual se juntou a instabilidade agravada recentemente no Médio Oriente, o Governo prevê um preço médio do barril de Brent mais baixo em 2024 do que este ano. Os 82,7 dólares (78 euros) de média previstos para este ano devem cair para 80,9 dólares (76,32 euros), com a taxa de câmbio euro-dólar a manter-se inalterada em relação a este ano, em 1,09.
Já do lado dos juros, a média no próximo ano deve ser superior à deste, dada a mensagem do Banco Central Europeu (BCE) de que terá de manter o aperto monetário por mais tempo do que inicialmente estimado. A expectativa agora é de 3,7% de média, ou seja, mais 0,3 p.p. do que este ano.