Nos últimos anos Lorde foi uma das ícones da “nova pop”. O seu álbum “Melodrama”, especialmente, tornou-se o espelho de todos os sonhos e ansiedades dos “teenagers”. No poderoso tema “Liability” cantava mesmo: “You’re all gonna watch me disappear into the sun”. O caminho luminoso, claro, estava cheio de raios e coriscos. Agora, neste novo disco, “Solar Power” (Universal Music, 2021), evoca o poder do sol e da luz. Mas como outras cantoras está receosa dos seus novos tempos de celebridade e ansiosa sobre o ambiente que a rodeia. Elevada, num instante, a estrela internacional, a neo-zelandesa Lorde reflecte sobre o passado, a felicidade atual e a incerteza no futuro. A batida sincopada está lá, mas entre o seu som escutam-se os seus sussurros, e escutam-se guitarras acústicas e flautas. Para desgosto de alguns fãs. É aí que Lorde ainda nos troca as voltas: evoca um planeta destruído pela ganância (“Fallen Fruit”). O desespero não desaparece, mesmo que o disco esteja contaminado pela nostalgia do que não viveu: a Califónia do sol e do surf dos anos 60 e 70, dos Beach Boys e dos The Mamas and the Papas ou o otimismo do virar do século de Nelly Furtado ou All Saints. Tal como aconteceu com Taylor Swift ou mesmo Lana Del Rey, Lorde choca com o seu sucesso meteórico e confronta-se com o mundo à sua volta.