Estamos às portas de um novo ecosistema cultural? Assim parece. Em menos de um ano o mercado de criptoarte, baseado na tecnologia “blockchain”, movimentou cerca de 800 milhões de dólares. Há cerca de duas semanas a Sotheby’s vendeu, por 24 milhões de dólares, uma série NFT (Non Fungible Token, um contrato digital em “blockchain” com o qual podes vender o que seja, de arte a música) de 107 retratos de macacos, designada “Bored Ape Yacht Club”, criada pelo estúdio Yuga Labs. Justin Sun, o jovem milionário chinês que criou a app Peiwo e a plataforma de criptomoedas Tron, sendo o CEO da BitTorrent, tornou-se uma figura de referência neste novo mercado, ao adquirir “Femme nue couchée au collier (Marie-Thérèse)”, pintado por Picasso em 1932, por 20 milhões de dólares. E transformou-o no primeiro quadro clássico que foi “tokenizado” com tecnologia “blockchain” e será exposto virtualmente junto a outras obras que Sun tem na sua colecção, de um Warhol a criações de arte digital. Como se tudo não parecesse uma comédia, Paris Hilton é uma das mais conhecidas coleccionadoras de NFT. Depois de “tokenizar” o seu Picasso, Sun antecipou: “Creio firmemente que, nos próximos 10 anos, 50% do top 100 dos artistas e obras em todo o mundo serão tokenizados”. E quem está na vanguarda do ecosistema dos NFT são os jovens empreendedores tecnológicos forjados no mundo das criptomoedas. Cheios de dinheiro para injetar neste mercado. Porque o “formato líquido” dos NFT pode vender-se facilmente ou ser modificado pelo colecionador. Um novo mundo, mais líquido e menos sólido, está a chegar à arte.