Quando o presidente chinês, Xi Jinping, se levantou para discursar na Sala dos Direitos Humanos e das Nações Unidas, no complexo que é a sede europeia da ONU, em Genebra, em janeiro de 2017, para explicitar o papel que a República Popular da China queria desempenhar no palco internacional, já a sua concretização estava em curso.
Xi Jinping ocupou o púlpito decorado com o símbolo das Nações Unidas e a bandeira chinesa e explicou, em mandarim, a sua ideia de comunidade com futuro compartilhado para a humanidade, a defesa do multilateralismo, a necessidade de reforma do sistema de governança global. Declarou o apoio de Pequim ao sistema das Nações Unidas e defendeu a cooperação internacional em temas como o clima, a segurança e o desenvolvimento. E garantiu que a China teria um papel mais “ativo e construtivo” no mundo.
Nessa altura, o projeto da nova Rota da Seda já estava em desenvolvimento e, de facto, a China já tinha então um papel mais ativo, mensurável pelo financiamento das organizações internacionais. Em 2017, contribuiu com cerca de 920 milhões de euros para o orçamento das Nações Unidas (ONU), para a Organização Mundial de Saúde (OMS) e para a Organização Mundial do Comércio (OMC). Representava apenas 37% do que os Estados Unidos pagaram e pouco menos do que o conjunto de 27 países da União Europeia. No entanto, aquele valor traduzia já uma multiplicação por quatro das contribuições anuais se atendermos ao início do século. Se olharmos para os valores de 2010, vemos que triplicaram. Ou seja, a China já estava a ganhar peso nas organizações internacionais, através do orçamento.
Aceleremos a fita do tempo até ao momento presente. O peso das contribuições chinesas no orçamento regular da ONU aumentou em oito pontos percentuais de 2021 para agora, para 20,004%; e o peso nos gastos com missões de manutenção da paz, um orçamento à parte, cresceu 8,575 pontos percentuais no mesmo período, para 23,785%. Juntando as duas alíneas, as contribuições chinesas aumentaram em 620 milhões de euros, para 1,78 mil milhões de euros.
Mais do que o aumento por si só, a China encurtou drasticamente a diferença para os Estados Unidos, de 54% do que os americanos pagam, para 90,8%. Tornou-se mais relevante.
No primeiro ano da nova Administração Trump, os Estados Unidos da América (EUA) reduziram o seu compromisso financeiro em 7,5%, para cerca de 1,96 mil milhões de euros.
O dinheiro chinês posto na ambição internacional
Multilateralismo : As contribuições da China para as organizações internacionais multiplicaram-se por 10 nas duas últimas décadas, traduzindo em dinheiro a promessa de um papel mais ativo no palco global.
